terça-feira, 18 de dezembro de 2018

TELINHA QUENTE 340


Roberto Rillo Bíscaro

Serial killer de filme/série quase sempre é extremamente inteligente e culto; coleciona troféus recolhidos das vítimas e deve ter tempo, recursos e sorte infindáveis à disposição, pra montar as mortes mais requintadas, trabalhosas, custosas e livres de testemunhas às vezes em locais (semi-)públicos. Nas horas vagas de seu ressentimento e distúrbios mentais, esses malucos estão memorizando detalhes e simbologias presentes em obras obscuras de séculos antepassados, sobre as quais deixarão pistas para brincar com algum detetive que, a despeito de conhecer assuntos tão especializados, preferiu se arriscar combatendo o mal ao invés de ficar de boa nalguma universidade, ganhando mais.
Não saberia dizer quando essa maluca representação de malucos começou, mas sucessos de bilheteria como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Se7en (1995) consolidaram essa idealização do assassino serial. Claramente inspirada pelo filme com Brad Pitt é a série britânica Messiah, que rolou com histórias independentes entre 2001 e 2008. Foram 5 minisséries, perfazendo 11 episódios no todo.
A BBC deve ter enfrentado duras críticas, porque o nível de explicitação das cenas de crime e dos sádicos assassinatos era inédito pra TV inglesa de início do milênio. O elo entre as histórias era apenas o grupo de investigadores, liderados por 4 temporadas por Red Metcalfe, frequentemente perturbado por tanta barbárie que é obrigado a presenciar/sentir o fedor. Red é férreo defensor da aplicação da lei: nem seu irmão escapara de seu zelo e crença na manutenção da ordem. É durão mas sensível, em quem podemos confiar, diferentemente de seu frequente parceiro Duncan, que volta e meia desliza. Duncan é mais nós, telespectadores, enquanto Metcalfe é o que aspiramos a ser. Nada como um par de atores do calibre de Ken Stott e Neil Dudgeon (o DCI John Barnaby, dos Midsomer Murders, da ITV; qualquer dia escrevo sobre).
Esses sofredores policiais têm que desvendar a mente de assassinos seriais que usam a Bíblia ou A Divina Comédia dantesca como horripilante inspiração pras mortes. Sorte que Metcalfe sabe até citar Dante no original italiano! Sorte também dos serial killers poderem matar a vontade num hospital, sem que ocorra a ninguém simplesmente transferir os pacientes pra quebrar o ciclo. Messiash é dessas; pura diversão de montanha-russa despirocada, no tamanho exato pra fãs de Epitáfios e afins.
Amei até a temporada quatro. Na quinta, a BBC trocou todo o elenco. Aproveitando que Stott estava compromissado com a ITV fazendo Rebus, a emissora estava com carta branca pra fazer o que tencionava: reduzir a faixa etária dos atores. Assim, a matança apocalíptica da última minissérie tem clima e rostos totalmente diferentes, com carinhas mais bonitinhas, embora longe de serem maus atores. Como vi tudo meio em seguida e me apegara demais aos atores – amo Ken Stott desde Rebus e Neil Dudgeon desde sempre – não consegui me adaptar e mesmo a trama boa não me segurou: parei de ver. Será coincidência que desde então – 2008 – não houve mais Messiah? Bem feito.

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