quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

TELONA QUENTE 265



Roberto Rillo Bíscaro

(Ab)Usar das convenções dos diversos subgêneros horripilantes tem sido tão frequentemente (ab)usado, que virou convenção. Desde que Wes Craven concebeu A Hora do Pesadelo 7: Novo Pesadelo (1994), que os clichês são explicitados por personagens superintendidas, que tentam escapar da morte evitando erros cometidos pelas vítimas em filmes de horror.
Escrito e dirigido por Owen Egerton, Blood Fest (2018) é a mais recente adição ao longo rol de produções que se querem espertinhas, porque (ab)usam das referências ao cine de terror. Não que não se precise de expertise e conhecimento pra esses roteiros, mas depois de tantos anos metacinemando, fica difícil classificar tais produções como “cabeça”. Detalhe aqui, detalhe acolá tornam-nas divertidas, mas o paródico quase sempre entorpece o terror e fica a sensação de filme cômico (SQN) com fantasia/ação melequenta. Blood Fest paga o preço de zombar dos clichês do horror, ao mesmo tempo que os exalta, afinal, trata-se de filmes-homenagem, mesmo que se finja ironia pós-moderna. 
Quando criança, Dax vê sua mãe ser assassinada por um mascarado. Ao crescer, torna-se especialista em filmes de horror, detentor do conhecimento de todas as convenções, de qualquer subgênero. Mas, seu pai odeia a violência despertada, que culpa por ter matado sua esposa. Por isso, quando descobre que Dax tem ingresso para um gigantesco festival de horror, em enorme área, o Dr. Conway inutiliza a pulseira-identificadora. Claro que Dax consegue jeito de penetrar na celebração, mas logo se dá conta de que o organizador tem espúrias intenções assassinas e daí começa a matança.
Blood Fest funciona não apenas como subvertedor de clichês - celulares sem sinal, virgindade; há um balde deles, todos apontados pro público, porque, afinal, o roteiro tem que provar que é esperto, explicitando o que qualquer fã-roxo sabe; mas daí há outro porém: nem todos são fanáticos, por isso há que explicar. O filme também mescla diversos mundos paralelos do horror: slasher, vampiros, zumbis, palhaços e até o torture-soft porn de Jogos Mortais. São tantos lugares-comuns, que daria tese; o conhecimento de Egerton é enciclopédico.
O resultado é bem movimentado, com reviravolta final, divertido mesmo, pra ver com tapauerzão de pipoca. Mas... Mas, não dá medo; não causa a menor tensão. É só mais um filme pra meninada que se implora hipster. Fã de horror, de verdade, sempre preferirá a simplicidade perturbadora dum Downrange
Uma dica: mesmo em 2018, compensa permanecer virgem, se não quiser morrer.

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