domingo, 2 de dezembro de 2018

SUPERANDO CENSURAS

Roberto Rillo Bíscaro

A Polônia dos anos 1970 estava sujeita à pesada censura imposta pelo regime comunista. Havia a Igreja Católica que contestava o totalitarismo, mas impunha sua própria censura, a moral. Nesse ambiente, publicar livro sobre sexualidade feminina, que falasse de direito ao orgasmo e técnicas de controle da natalidade, era transgressor política e religiosamente. Pois, a ginecologista Michalina Wislocka escreveu a necessária e revolucionária obra. Essa história é contada no competente A Arte de Amar (2017), dirigido por Maria Sadowska e constante do catálogo da Netflix.
Ziguezagueando temporalmente, mas sempre entendível, A Arte de Amar apresenta preciso painel de como a história pessoal de Michalina importou pra que o livro A Arte de Amar fosse escrito. Tem desde a tentativa de relacionamento à romance de Simone de Beauvoir até o capitão-bofão que descobre seu ponto G e a faz sentir que gozar é vital. O roteiro não deixa de lado a condescendência enfrentada pela médica no mundo acadêmico, apenas por ser mulher. E quando trata da censura a seu livro, de quebra, revela delicioso caso de pura desobediência civil da católica e oprimida população polaca, que, pelo menos, queria aprender a ter prazer na cama.
A Arte de Amar é feminista e especialmente necessário numa época quando até mesmo mulheres dizem não precisar do feminismo, sem se lembrar que se podem votar, dirigir ou gozar hoje, é por causa de gente como Wislocka. 
E, além de todas as qualidades intelectuais, é um filme bonito e gostoso de ver.

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