quinta-feira, 2 de agosto de 2018

TELONA QUENTE 247


Roberto Rillo Bíscaro

Muitos filmes de horror indicam ao espectador pra quem ele deve torcer pra não morrer e quem é descartável. (Quase) Sempre em termos de julgamento moral. Nos slasher films, virou piada a convenção de que meninas que transam e carinhas que fumam erva têm que morrer.
Downrange (2017), filme norte-americano do diretor Ryuhei Kitamura é impiedoso e implacável. O japonês e seu parceiro no roteiro, Joey O’’Bryan, construíram claustrofóbico rincão de mundo a céu aberto, onde não somos coagidos a nos importar com ninguém em particular, não porque sejam todos ruins, mas porque ninguém se destaca. Ajuda muito que diálogos e atores sejam fracos.
Não há muito tempo pra exposição: em menos de um minuto de exibição, o pneu da caminhonete fura e os passageiros – que nem se conhecem direito – se veem ilhados numa estrada no meio do nada e sem sinal de celular. Aí sim, temos uma enrolada, mas não pra conhecermos muito bem as personagens, mas pra esperar o começo da matança. Porque Downrange é sobre um atirador no meio do nada, que elimina os meninos à distância, com rifle de alta precisão e longo alcance e, mais assustadoramente, com silenciador, então as mortes saem do nada.
Nos atos iniciais, o suspense se produz através das tentativas de driblar o atirador – que, claro sabemos que falharão, se não acabaria o filme! – e de quem vai ser atingido em seguida. No terceiro ato, Downrange surta e oferece frenético banho de sangue. É como se Sam Raimi estivesse dirigindo um filme pra grindhouse, mas com qualidade de imagem atual, ou melhor, imagem de qualidade trash atual.
É isso: Downrange é desavergonhadamente trash e exploitation. Em seus momentos melhores, duma tensão de roer os ossos dos dedos e com sangue pra todo lado. Se você não quer aprender a cauterizar um ferimento a bala de rifle, usando a parte rombuda fervente dum martelo, não veja. Quem sabe da doideira que é filme asiático, entende o que falo.
Forçado, sem acrescentar ao cânone do horror, Downrange consegue divertir uma coisa que serve e só quem tiver algum nível acentuado de psicopatia ou inconsequência não perceberá que acesso fácil a armas não é saudável. E olha só nossa sociedade ter que ser criticada pelo viés do filme trash. Tão edificante...

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