quinta-feira, 16 de agosto de 2018

TELONA QUENTE 249


Roberto Rillo Bíscaro

No último decênio, têm aparecido bons filmes referenciando o horror/suspense dos anos 1970. Fugindo do ritmo aloprado, barulhões estridentes e recursos digitais da contemporaneidade (nada contra!), produções como Ainda Estamos Aqui, A Casa do Demônio e Corra! acabam se destacando. Isso pra lembrar aquelas resenhadas no blog.

Este ano, já saíram dois bons exemplos dessa reciclagem de formas setentistas de contar histórias. Um deles vai muito atrás. Ghost Stories pode ter seu DNA traçado ainda em 1945, quando o brasileiro Alberto Cavalcanti dirigiu Dead Of Night, na mesma Inglaterra do filme de 2018.
Ambos são antologias, formato muito em voga nos anos 60 e 70, nas veneráveis Hammer e Amicus. Na verdade, o desfecho de Ghost Stories está em uma antologia predecessora, mas, obviamente, não direi qual.
Philip Goodman é professor universitário, que também tem show de TV dedicado a denunciar fraudes paranormais. Crê prestar grande serviço à causa da racionalidade, até que seu mentor o contata pra desafiá-lo com 3 casos de histórias fantasmagóricas inexplicáveis. Entremeando cada caso e no final explicativo, seguimos a trajetória de Phil, cada vez mais em dúvida sobre a inexistência do sobrenatural.
Ghost Stories não apenas resgata o consagrado formato de trinca de historietas fantasmagóricas, mas usa alguns recursos típicos dos filmes de antanho. Tudo se passa numa Inglaterra aparentemente deserta e opaca, sem nojeira ou ruídos pra assustar. Ghost Stories é mais atmosfera arrepiante do que orgia gore. E não é que mesmo assim, conseguiu me dar um susto da maneira mais óbvia possível?

E não é que o Cannesnizado Steven Soderbergh conseguiu transformar a reprimida e esnobe Elizabeth II numa norte-americana de boca suja, que não tem medo de partir pra porrada? Claire Foy, de The Crown, dá show em Unsane, cuja filmagem usando um iPhone deixou-o ainda mais parecido com os inspiradores exploitation films setentistas.
A trama sensacionalista (mulher trancafiada num manicômio contra a vontade), que objetifica a protagonista pra depois torna-la agente (de mentirinha, claro); o amigo bonzinho que vive pra mocinha e até final em freeze frame (há anos não via isso!); é tudo puro anos 70. Só que com nomes consagrados. Então, fica cool gostar! Mas, essa tradição da mulher engaiolada, especialmente em presídios, bombou nos 70’s e vem até nos uniformes laranja considerados como os novos negros. Unsane é a junção dessa vibe com a de gente injustamente trancafiada como louca, ”denúncia” social e o clássico mulher-perseguida. É tudo muito divertido, mas não tem nada de original, por isso o diretor tratou de chamar a atenção para a forma como filmou e chamou Foy. Espertinho.

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