terça-feira, 14 de agosto de 2018

TELINHA QUENTE 322


Roberto Rillo Bíscaro

Celebro acesso a séries de países menos centrais, como quando descobri a delícia ucraniana The Sniffer. Talvez ingenuamente, apresso-me a ver - e se possível avaliar positivamente – algumas das adições não anglofalantes ao catálogo da Netflix. Fantasio que se notarem público que curta, colocarão mais opções. Como não há isonomia na divulgação das novidades, assino newsletter que traz todos lançamentos, diariamente. Chama-se, inclusive, Lançamentos da Netflix. Desinformação é escolha na era da internet.
Foi por ela que descobri O Jornal (2016), primeira série da Croácia comprada pela empresa. A temporada inicial consiste de dúzia de capítulos, numa trama que mostra a encruzilhada em que se encontra o fictício jornal Novine (nome original da série), quando é adquirido por inescrupuloso capo da construção civil. Mario Kardum obviamente nada entende e nem se importa com ética jornalística, e só quer usar o diário pra atacar seus desafetos, dentre os quais o prefeito Ludvig Tomasevic, moralista sem moral presidenciável. The Paper vai na toada “político nenhum presta” e concorda com Frank Underwood, que na temporada inicial de House Of Cards afirmou que poder é mais importante que dinheiro.
O Jornal poderia ser mais enxuta e ágil. Em seu passo desnecessariamente detalhista e reiterativo, espantará espectadores menos pacientes. Não precisava ser alucinada feito Scandal, mas daria pra contar a história em meia dúzia de capítulos, caso dispensasse cenas supérfluas e longas, como cruzamento de túneis, estendidas miradas pro nada e um sem número de cenas que não acrescentam à história. O roteiro preocupou-se tanto em dar destinos, backgrounds e explicações sobre todos, que tem um monte de desnecessidades. A tal da Dijana Mitrovic é um exemplo típico da falha de Novine: a personagem tem a bola enchida no início, pensamos que mitará, mas, na maior parte da série, nada faz.
Outro defeito d’O Jornal é que ficamos confusos com personagens demais, meio indistintos, vários sem função ou que poderiam aparecer bem menos, que mais falam do que fazem. O vilão Mario Kardum é exemplar: além de esbravejar, não vemos mostra de seu tão decantado poder, talvez no fundo porque o roteiro insista que dinheiro e poder não são o mesmo. Mas, mesmo assim, Mario só esbraveja e fala grosso com sua editora-fantoche no jornal. Também fica claro que é dominado pela mãe, mas toda vez em que contracenam, ele a contradiz e faz o que quer.
Alguém me explica se mergulhar a cara n’água com a câmera filmando por baixo é algum novo fetiche? Quem viu as duas temporadas de 3% deve lembrar que o personagem de João Miguel faz isso. Em Novine, todo mundo tem direito a uma cena assim.
Mesmo com defeitos e passo de tartaruga, O Jornal me interessou, porque histórias de intriga me agradam. Também aquele monte de gente fumando como nas produções ianques dos anos 40/50; com peles não consertadas com massa corrida e o simples fato de poder ver atores que não conhecia e as ruas duma cidade croata.
Claro que esses últimos quesitos não servem pra motivar audiência, assim, O Jornal só será lido inteiro por quem souber fechar os olhos pros defeitos e não dormir com lerdeza.
A segunda temporada encerrou filmagens há pouco e está em pós-produção. A Netflix também a adquiriu, então, se for lançada por aqui, verei. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário