domingo, 11 de novembro de 2018

ORGULHO ALBINO

A afirmação do orgulho albino

Qualquer reflexão ou alusão à coloração da pele, ainda constitui um assunto constrangedor, apesar do paradoxo existente em que, por um lado, algumas pessoas, inclusivamente famosas, aparentam ter branqueado a sua pele escura mas, por outro lado, os albinos são repudiados pela sua cor clara. Com efeito, em todo o mundo, as pessoas com albinismo continuam a enfrentar ataques ou sofrem uma terrível discriminação, estigmatização e exclusão social, o que mostra quão desumano e intolerante pode ser o homem, relativamente ao outro e à diferença.

Daí a condenação da Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, dos "assassinatos e ataques cruéis contra os albinos, que são cometidos em circunstâncias particularmente horríveis e que envolvem o desmembramento de pessoas, incluindo crianças". Estes crimes são muitas vezes ligados à feitiçaria.

Alguns praticantes acreditam que o feitiço é mais poderoso quando a vítima grita durante a amputação, o que explica que os corpos muitas vezes sejam cortados enquanto as vítimas estão vivas. O Conselho de Direitos Humanos da ONU adoptou uma resolução que condena ataques e a discriminação de pessoas albinas. Este órgão também solicita medidas para garantir a proteção deles. A resolução, proposta pelas nações africanas e apoiada por outros países, obteve consenso.

A mesma prevê, outrossim, que seja garantido o acesso das vítimas e das suas famílias a medicamentos apropriados e à Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Todavia, para além dos procedimentos legais e administrativos é fundamental a educação das pessoas contra os estereótipos que rodeiam estes seres inocentes. É que algumas famílias das crianças com albinismo muitas vezes negligenciam a sua educação e as que frequentam a escola sofrem grave assédio moral.

ORGULHO ALBINO

Paulatinamente, os portadores deste problema congénito têm estado a desencadear uma série de acções no sentido do respeito pelos seus direitos humanos, normalização do seu quotidiano, ostentando orgulho por aquilo que são. É o caso de alguns nomes do mundo artístico e da Moda internacional, em que sobressai Shaun Ross, modelo profissional, actor e dançarino, mais conhecido por ser o primeiro modelo albino masculino.

Tem sido destaque nas principais publicações de moda, incluindo a britânica GQ, Vogue Italiana, i-D Magazine, Paper Pagazine e Another Man. Está igualmente ligado ao cinema e televisão e participou de vários vídeos musicais, incluindo os clips da cantora californiana Katy Perry e da afro-americana Beyoncé. De nacionalidade sul-africana, Thando Hopa também é modelo apesar de possuir um diploma de advocacia.

Nunca se sentiu em perigo por ser albina, mas está consciente de que nem todos têm a sua sorte. É essa consciência que motiva o seu desejo de servir de referência para os menos afortunados. " Quero fazer a diferença, mas não apenas em relação à percepção. Quero ajuda prática para os albinos, para que consigam apoio para a aquisição do protector solar e auxílio para a sua visão" declarou à Sky News.

Com a mesma inenção, Diandra Forrest, modelo albina afroamericana tem-se empenhado nesta luta contra os preconceitos. O cantor maliano Salif Keita, descendente directo do fundador do Império do Mali, Sundiata Keita, foi ostracizado devido ao seu albinismo, sinal de azar na cultura Mandinga .

Mudou-se para Paris em 1984 com o objectivo de prosseguir a sua carreira e o seu êxito contribuiu para diminuir a discriminação existente um pouco por toda a parte. Embora servindo-se do humor, o comediante americano Nate Hurd, albino, também está envolvido nesta luta contra os estereótipos sociais.

O brasileiro Roberto Rillo Bíscaro, doutorado em dramaturgia norte-americana, é conhecido pelo seu blog "Albino Incoerente", que trata para além de assuntos diversificados, do tema do albinismo, pouco divulgado nos meios de comunicação social. São numerosos, por conseguinte, em todo o mundo os que assumem o seu albinismo e encetam um combate cerrado visando a melhoria das suas condições sociais e humanas, tanto individualmente como em associações. 


ALBINOS DESTACADOS EM ANGOLA

É cada vez mais comum, encontrar pessoas com albinismo nas ruas de Luanda. Um dos mais mediáticos é o comunicólogo Celso Malavaloneke, que com a sua visibilidade e simpatia, a que acresce alguma polémica, contribuiu muito para a quebra dos estereótipos e por um maior respeito pelas pessoas com falta de melamina.

Outra figura importante é Guilherme Santos, presidente da ADRA e de reconhecida competência. Entre a juventude é de realçar o artista Lombadas. Protagonista de vídeos que se tornaram populares nas redes sociais no país, o criador da expressão "Issekévida" é actualmente uma das mais conhecidas e mediáticas figuras da Internet em Angola. Antigo "bailarino de Kuduro" do cantor angolano Puto Prata, estreia-se também como cantor e torna-se um dos rostos da campanha publicitária da TV ZAP, sobre o Mundial.

O jovem Lombadas manifesta a também a sua intenção de representar os "Kilombos" porque na sua opinião, os albinos "não se assumiam como hoje em dia, agora eu vejo na rua muitos a assumir o que são, porque me viram a assumir sem preconceitos aquilo que sou". Praticamente em todos os ramos profissionais, estes angolanos têm dado a sua contribuição com dedicação e competência.

A DISCRIMINAÇÃO EM ÁFRICA

Porém, em África, especialmente na parte oriental, pessoas com albinismo correm permanentemente risco de vida. São diversas as razões, sendo a principal a superstição que lhes atribuiu poderes super-naturais. Muitos acreditam que eles, são criaturas de "sorte", daí que sejam mortos para que os seus órgãos sejam utilizados em práticas de bruxaria ou então para que o autor do crime "herde a sorte" do malogrado.

As pernas e as mãos amputadas são vendidas a pessoas que os usam como talismãs, para, de acordo com às suas crenças, dar sorte ou afastar maus espíritos. Pescadores colocam cabelos de albinos na sua rede para ter sucesso na pescaria. Mineiros penduram no pescoço amuletos feitos com seus ossos moídos e acreditam que o pó daí resultante, depois de algum tempo enterrado, se transforma em diamantes Quem consegue beber o sangue ainda quente de um albino "tem sorte a dobrar", sobretudo se se tratar de uma criança, pois consideram que a pureza infantil intensifica o poder do feitiço.

A pele é usada para revestir amuletos. Os órgãos genitais são usados em poções para cuidar de disfunção erétil. A procura de albinos aumentou imenso depois da propagação da SIDA na Tanzânia Há a crença de quem tiver relações sexuais com albinos ou albinas ficará curado do HIV. Por este motivo, as mulheres muitas vezes são estupradas. Também há uma crença nalguns locais que expressa que a ingestão de órgãos genitais secos elimina a doença. Os que morrem são sepultados pelos seus parentes em locais onde os restos mortais não possam ser desenterrados pelos fornecedores dos feiticeiros.

Um relatório publicado pela ONU, afirma que os albinos "são considerados fantasmas e não seres humanos". Há zonas em que são também mortos e enterrados com os chefes tribais falecidos para que estes não fiquem sós nas suas covas. Alguns políticos querem obter um amuleto para garantir a sua vitória nas eleições. Grupos de Especialistas da ONU têm-se pronunciado e alertado contra estes comportamentos. Um deles é Christof Heyns, Relator Especial sobre Execuções extra-Judiciais, Sumárias e Arbitrárias.

OS ALBINOS E A ÁFRICA ORIENTAL

Os cientistas ainda não foram capazes de explicar claramente as causas do percentual elevado de albinos na África Oriental. Admitem a hipótese de que a Tanzânia e a África Oriental possam ser o berço da mutação genética que cria o albinismo.

Por outro lado, por causa da discriminação e exclusão social, as pessoas com albinismo tendem a casar-se entre si, o que aumenta a probabilidade de terem filhos também albinos. A vida das crianças albinas está praticamente em risco desde a sua nascença devido a todas as crenças atrás referidas. Segundo a ONU, a Tanzânia é o país com mais ataques, seguindo-se o Burundi, Quénia, República Democrática do Congo, Suazilândia, África do Sul e Moçambique.

ALBINISMO, DESPIGMENTAÇÃO E CLAREAMENTO DA PELE

Para além do albinismo, distúrbio congénito caracterizado pela ausência completa ou parcial de melamina pode ocorrer uma situação de despigmentação da pele, isto é, de perda da pigmentação normal da pele, quer de forma espontânea ou intencional. A espontânea consiste numa distribuição anómala de melanina, como por exemplo o Vitiligo, que se caracteriza pelo aparecimento de manchas brancas em certas áreas do corpo.

Já a intencional tem por objectivo o clareamento da pele, motivada por razões psicológicas e sociais, uma prática generalizada nalguns países de África especialmente entre as mulheres. Com a globalização, muitas nações pós coloniais têm visto um aumento da procura de cremes de clareamento da pele visando obter uma aparência eurocêntrica.

No entanto, esses produtos clareadores de pele, geralmente, contêm três ingredientes perigosos: mercúrio, hidroquinona e / ou corticosteroides, que podem ser extremamente perigosos e fatais. A cor da pele tem forte influência sobre as expectativas conjugais, emprego, estatuto e aceitação social.

Indivíduos de pele mais escura são sociais e economicamente desfavorecidos e as mulheres são preteridas. Isto talvez possa ajudar a explicar a atribuição dos poderes especiais aos albinos, já que a cor clara é garantia de sucesso, bem como a quase obsessão, pela eliminação intencional da melamina do seu organismo verificada em muitos países de África.

"COLORISM" E "PIGMENTOCRACIA" NOS ESTADOS UNIDOS

Ao contrário do que seria de esperar, dada a longa luta contra a segregação, pelos direitos cívicos e a acção de Martin Luther King, nos Estados Unidos também existe a preocupação pelo clareamento da pele entre os afro-americanos. Pode ser entendida como sequela do colonialismo europeu que criou um sistema de supremacia branca, em que as diferenças biológicas na cor da pele foram usados como justificativa para a escravidão e a opressão dos africanos, bem como para o desenvolvimento de uma hierarquia social que colocou os brancos no topo e os negros na parte inferior.

O Dr. Ronald E. Hall, da Michigan State University, no início da década de 1990, considerou como " síndroma de branqueamento" este processo de tentativa de clarear a pele. Existe, assim, um conflito psicológico, fazendo com que alguns afro-americanos desenvolvam um desdém para a com pele escura, uma vez que contraria os ideais culturais dominantes.

Num artigo intitulado "Colorism: um tom mais escuro de Pele", Taunya Lovell Banks discute o conceito de "colorism" e como foi interiorizado pela comunidade negra, levando a uma hierarquia que privilegia as peles mais claras dentro das suas próprias comunidades. Esta discriminação interna baseada na cor da pele é uma forma de preconceito ou discriminação em que os seres humanos são tratados de forma diferente com base nos significados sociais ligados à cor da pele.

O termo "Colorism", cunhado pela escritora Alice Walker em 1982, não é sinónimo de racismo. Este está relacionado com o significado social atribuído a uma raça. Já o " colorism" consiste na dependência de estatuto social da cor da pele apenas. Comportamentos ligados ao "colorism" ocorrem em todo o mundo. Pode ser considerado uma consequência da prevalência global da "pigmentocracia", um termo recentemente adoptado por cientistas sociais para descrever sociedades em que a riqueza e o estatuto social são determinados pela cor da pele.

Uma das evidências consiste no clareamento da pele ostensivo de alguns artistas afro- americanos de sucesso que, com a sua prática, tornam o slogan americano dos anos 60, "Black is Beautiful", obsoleto. É o que se depreende comparando as imagens do passado com as actuais da Beyonce, Rihana, Tyra Banks, Nik Minaj, Iman, além de Michael Jackson que teria sido por razões de saúde. Para o psiquiatra antilhano Frantz Fanon em "Peles Negras Máscaras Brancas" " a cor não deve de forma alguma ser sentida como uma tara...uma outra solução é possível.... Ela implica uma reestruturação do mundo..."

O ORGULHO ALBINO EM ANGOLA

Angola é um dos poucos países onde os preconceitos contra os portadores de albinismo não é tao forte quando comparado com outros países de Africa. Estes levam uma vida normal, alguns ocupando cargos de responsabilidade dentro da sociedade. Por outro lado, não faz parte da cultura angolana a utilização de produtos para clareamento da pele, apesar de alguns casos inexpressivos de angolanos provenientes da RDC, e há um forte índice de mistura entre os povos.

Com estas características, Angola acaba por ser um país peculiar no contexto africano. Tem de ser reconhecido o comportamento dos angolanos em relação ao respeito pela diferença no que concerne aos albinos. Isto permite que se encontrem albinos orgulhosos do que são e com uma alta auto-estima.

Nem tudo é perfeito como exprime Guilherme Santos, Presidente da ADRA. Porém, acrescenta que muitas vezes a hostilização, a discriminação e os estereótipos surgem por parte de familiares. Assim, persiste na sociedade algum preconceito, construído psicologicamente, que pode ser ultrapassado se todos estiverem envolvidos em dar apoio psico-social aos familiares de pessoas com albinismo. Para dar o seu apoio, surgiu, de uma forma natural e espontânea, o Grupo Voluntário de Apoio a Pessoas com Albinismo em Angola (GVAPAA), de que fazem parte alguns fotógrafos.

São um grupo de cidadãos de várias nacionalidades, sem personalidade jurídica e sem fins lucrativos, que se juntaram com o intuito de dar apoio de modo sustentável a pessoas com albinismo em território Angolano. Acreditam que que a educação e (in)formação das pessoas com albinismo, das suas famílias e comunidade a que pertencem, é a melhor e mais sustentável forma de ajudar.

Na mesma linha de intervenção, a Associação de Apoio aos Albinos de Angola (AAAA), representada pela sigla " 4As" integra todas as pessoas que queiram associar-se para o bem da Associação. É uma organização filantrópica, de caráter Nacional e não lucrativa. Pretende trabalhar com o Governo de Angola na divulgação de dados estatísticos de existência de pessoas albinas em Angola, educar a população albina com base nos argumentos científicos, em detrimentos de algumas crenças e tabus, promover campanhas de sensibilização da população nos órgãos de comunicação social, rádios, TVs, jornais, revistas, e outros. Advoga também a formação de médicos especialistas para atender os albinos angolanos.Ainda há um longo caminho a percorrer mas pode-se afirmar que em Angola há condições para que os albinos tenham orgulho da sua condição e levem a sua vida normalmente.

A palavra albinismo vem do termo em latim albus, "branco". É um distúrbio congénito caracterizado pela ausência completa ou parcial de pigmento na pele, cabelos e olhos, devido à ausência ou defeito de uma enzima envolvida na produção de melanina. Muitas formas de albinismo estão associadas à sensibilidade à luz (fotofobia) e ao movimento rápido dos olhos (nistagmo).

A falta de pigmentação da pele faz com que o organismo fique mais suscetível a queimaduras solares e ao cancro da pele. Também aparecem equivalentes do albinismo nos vegetais, em que faltam alguns compostos corantes, como o caroteno e nos animais. Para prevenir problemas de saúde, as pessoas com albinismo devem: evitar a exposição solar direta ou indireta; fazer visitas periódicas ao dermatologista e ao oftalmologista; estudar ou trabalhar em salas onde a incidência de luz não seja prejudicial; usar óculos escuros com prescrição médica para proteção para os raios solares; usar acessórios como chapéus com abas, sombrinhas e blusas de manga comprida; protetor solar (pele e lábios) de elevado índice de proteção, (Fator de Proteção Solar (FPS) superior a 50, contra os raios ultravioletas UVA e UVB.

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