quinta-feira, 3 de maio de 2018

TELONA QUENTE 234


Roberto Rillo Bíscaro

Antigamente era bem mais difícil detectar quando uma produção reciclava cenários ou adereços, porque o único acesso que a maioria do público tinha a filmes era quando exibidos no cinema e, depois, esporadicamente na TV. Daí, entre os meses ou anos que separavam uma assistência da outra, o espectador médio nem se lembrava direito da trama, quanto mais de detalhes técnicos. Hoje é bem diferente, porque mesmo películas antigas estão no Youtube ou podem ser baixadas (embora este blog não aconselhe, porque é contra a lei)
Assistência comparada interessante seria ver Fligh to Mars (1951) imediatamente depois de Rocketship X-M. Apesar de o segundo ser colorido, se você prestar atenção verá quão parco foi o orçamento dado pela Monogram Productions: o interior do foguete é o mesmo de Rocketship, e as roupas dos marcianos idênticas aos uniformes de Destino Lua. Sem contar que os trajes espaciais dos terráqueos em Flight to Mars (FTM) também não passam de roupas de aviador ou bombeiro militar. No Brasil chamado Voo Para Marte, FTM é um dos muitos genéricos da produção sci fi fordista dos anos 1950.
A Terra está prestes a lançar seu primeiro voo tripulado ao planeta vermelho; uma nave com cientistas e um jornalista, onde parece que a maioria se conhece quase na hora do lançamento. Quer mais pragmático e producente do que colocar bando de estranhos confinados, sem teste psicológico ou de convivência? O roteiro de FTM é feito nas coxas, afinal, trata-se dum quickie (do adjetivo rápido), termo também utilizado até hoje pruma trepadinha veloz. Viu, como foi nas coxas? Reza a lenda que TFM levou cinco dias pra filmar.
Uma chuva de meteoros iguais aos de Rocketship X-M, mas vermelhos, avaria a nave, que faz pouso forçado e fica encravada de bico, no que parece ser neve marciana. Se bem que isso não deveria fazer diferença, porque no início um dos cientistas afirmara que não faziam ideia de como retornariam da missão (WTF?).
Em Marte, encontram civilização subterrânea avançadíssima, capaz de extrair oxigênio e comida de pedra, mas não de construir foguetes. Todos falam inglês porque captam as múltiplas transmissões de rádio da Terra, mas sua tecnologia anos-luz mais avançada do que a nossa, não consegue transmitir de volta. O roteiro tem tanta lógica, como possuo pigmento. Os marcianos, iguaizinhos a nós e com mulheres usando microvestido, são supercooperativos, mas logo descobrimos suas segunda intenções. 
FTM perde a graça no terço final, quando vira meio draminha mimimi com sua parte pseudoamorosa. Como o dinheiro acabou, roteiro teve que fazer os atores ficarem conversando vestindo aquelas roupas “futuristas”.
A crítica tem sido demasiado rigorosa com Flight to Mars, porém. Suas roupas coloridas e o nonsense do roteiro ainda dão caldinho gostoso pra fãs de sci fi.

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