quinta-feira, 24 de maio de 2018

TELONA QUENTE 237


Roberto Rillo Bíscaro

Em 2011, a Dinamarca levou o Oscar de melhor filme estrangeiro, com Em Um Mundo Melhor, da diretora Susanne Bier. Em um mundo onde até a ex-idílica Escandinávia teme a violência, a produção faz questionamentos liberais, cujas respostas, claro, funcionam só pruma minoria.
A trama envolve 2 famílias entrecruzadas pela amizade de 2 garotos, o dentuço Elias e Christian, que perdera a mãe recentemente e era uma bomba pronta a (literalmente) explodir. O pai de Elias é um médico sueco que atende em campo de refugiados na África, sabe-se lá em qual país, afinal, tudo é “África”, é tudo igual (SQN). A comunidade no local é aterrorizada por gangue que estripa grávidas, dentre outras gentilezas.
Na Dinamarca, seu filho é vítima de bullying muito pesado na escola, não apenas pelos dentes, mas por ser sueco, porque a Escandinávia também não é uma coisa só, harmoniosa, como forasteiros fantasiam. Viram como todos temos nossas “Áfricas”? Mesmo que sejam ricas...
Quando Christian começa a frequentar a instituição e também bullynado, sua reação é de arrancar sangue da fuça do agressor. Assim, nasce a amizade entre os discriminados e infelizes garotos.
Um dia, ambos presenciam o pai de Elias, o Dr. Anton, ser humilhado e agredido publicamente por um mecânico dinamarquês (Kim Bodnia, o Martin Rohde, de Bron/Broen). Como o sueco é adepto da não-violência, vira a outra face, mas os meninos ressentidos não gostam e começam a tramar algo. Enquanto isso na África, o médico terá que confrontar novamente sua atitude supercristã de apanhar e ficar quieto, quando o líder da facção que assombra o acampamento chega de surpresa, cheio de capangas e com a perna podre. 
Com problemas paralelos na “África” e na Dinamarca, Em Um Mundo Melhor é cristalinamente claro nas perguntas que propõe e em seu propósito parabolizante. Faz isso de maneira competente, bem atuada, com suspense e drama, mas sua lógica interna tende a enxergar como violentos mais os povos e pessoas “primitivos”: os africanos e o mecânico, o qual Anton paternaliza que não teve escolha, que não se consegue se controlar. Uau, tão próximo de animais, tadinho, SQN.
Outro nó é que as decisões tomadas por Christian/Elias e Anton pra reagir à violência na Dinamarca e na “África” são problematizadas e têm desdobramentos apenas na primeira. É como se na “África” valesse fazer qualquer coisa. Como os colonizadores d’outrora.
Esses questionamentos não inviabilizam Em Um Mundo Melhor. Pelo contrário, colocam mais lenha pra discussão, afinal, quem já não teve vontade de se vingar na porrada dalguma das constantes violências que sofremos?

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