terça-feira, 27 de setembro de 2016

TELINHA QUENTE 231



Roberto Rillo Bíscaro

Duns 10 anos pra cá, tem havido sucessão de (mini)séries policiais e de mistério excelentes. O influxo escandinavo foi bastante responsável por isso e a Inglaterra seu principal tributário, embora as sombras do Nordic Noir tenham escurecido a Espanha, Austrália, Nova Zelândia, França, Alemanha e EUA. Mas, nem tudo é Scandidrama; tem coisa que vai pro lado dos Law And Order e CSI da vida e às vezes mistura até soap. É o caso dos 10 episódios de Guilt, exibidos entre junho e agosto pelo canal Freeform. O título Culpa me pegou de chofre. Pra quem ama Scandal e tentou até as fracassadas Betrayal e Deception, Guilt tinha que passar adiante na longa fila de arquivos.
A coprodução anglo-estadunidense começa com o brutal assassinato da norte-irlandesa Molly. Sua melhor amiga, a ianque Grace, é acusada pelo assassinato. A partir daí, desvela-se um mundo de mentiras e perversão, envolvendo clubes de sexo pra elite e até o Príncipe de Gales. Quase tudo subaproveitado. A opção pelo tom mais tabloideiro enfatiza as revelações bombásticas ao invés de aprofundar aspectos. O padrasto de Grace tem todos os elementos pra ser um personagem altamente dúbio, mas a trama o descarta sem explicação. Pode ser que estejam esperando segunda temporada pra aproveitá-lo, porque nessa nem entendi porque apareceu. Mas, a audiência não foi lá aquelas coisas, então, sei não...
Como diversão, Guilt é competente e não se deve esperar mais do que isso. As personagens são unidimensionais e algumas até bobas. Sem contar a tentativa desesperada de chocar, como numa revelação de paternidade no capítulo final, sem preparo algum; enxertada mesmo pra seguir a trama. Também não consegui empatizar com Grace; muito sem-noção a mina. Não dá pra se importar muito com ninguém, pois todos são de plástico.
A edição é veloz, daquelas de filmar a cidade em câmera rápida; até os barcos no Tâmisa parecem lanchas em competição. Por falar na urbe, a Londres é a dos pontos turísticos, dá a impressão dum olhar de turista. Em toda cena tem que constar o Big Ben, Westminster. Também nada contra, mas mostra a diferença pra séries autóctones que não precisam se apoiar em clichês visuais pra marcar território, porque o que importa é mais a trama.
Se seu negócio é só desligar do mundo e ver clichê, Guilt compensa. Mas num planeta com séries tipo Shetland, Hinterland, Broadchurch, River, Happy Valley, Forbrydelsen e Bron/Broen, vê-la antes (ou apenas) é criminoso.

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