terça-feira, 19 de abril de 2016

TELINHA QUENTE 208

Roberto Rillo Bíscaro

Duns tempos pra cá, tem história de tudo quanto é coisa: do diabo, da menstruação, da homossexualidade, da representação disso ou daquilo em tal época ou cultura. Detratores acusam que se perde o todo da História; partidários defendem que se ganham minúcias e especificidades.
Eu queria um pouco de História, mas não estava a fim de deixar meu extenso romance norueguês de lado, daí fui de história pop mesmo, em mais de um sentido. Não só porque era de documentário do History Channel, mas porque era dessas bem segmentadas. Em cada um dos 8 episódios vistos de How Sex Changed the World, o narrador avisa que pularemos as partes chatas da História e vamos ao mais gostoso: sexo!
Superacessível, com letreiros grandes, resumos após cada seção, depoimentos e opiniões de “comuns” e não apenas de expertos. Bem longe do formato ao qual eu estava acostumado, com as “cabeças falantes” e mais solenes, parodiado no horror O Misterioso Caso de Judy Winstead.
As opiniões asneirentas de muitos “comuns” me pareceram perda total de tempo; quem se importa com o que um(a) anônimo(a) faria na cama se soubesse que aquele era seu último dia de vida? Ainda bem que isso tomava poucos segundos de cada episódio, mas mesmo assim, eu descartaria.
O programa fala da ambiguidade da relação norte-americana com o sexo. Eles têm fama de serem reprimidos, mas o show mostra que o sexo tem sido força motora poderosa da história do país, e por conseguinte, mundo. Caracteristicamente, um letreiro adverte o espectador pra ser discreto com relação ao conteúdo. 

Ep. 1 Sex Pioneers – Puritanos eram rebeldes no sentido de não concordarem com a igreja anglicana e apesar de terem tantos tabus comm relação a sexo, uma das tarefas dos maridos era manter as esposas satisfeitas, a tal obrigação conjugal. Isso cumpria função econômica também pra crescer a população. Mas, ao mesmo tempo Thomas Morton, um neopagão inglês ficou bem perto das primeiras colônias puritanas, legal esse paradoxo tão simbólico. Na Corrida do Ouro (1850’s) construiu-se a riqueza de San Francisco e uma nova aristocracia. Parte de tudo isso foi com dinheiro ganho em prostituição, porque a mulherada caiu de boca na proporção de 50 bofes pra cada uma na época.
Ep. 2 Sex For Sale– A Igreja explorava e usava muito o serviço de prostitutas e bordéis, antes da Reforma Protestante, que fez com que a Igreja mudasse essa estratégia monopolista muito lucrativa. Em New Orleans, por uns 20 anos, no final do século XIX, designou-se uma área onde a prostituição era livre e isso atraiu muita grana, além de contribuir com a integração racial e oportunidades pra músicos negros do nascente jazz, como Louis Armstrong 
Ep. 3: Sex Rebels exageradamente defende que o alto apetite sexual e extravagâncias na cama de governantes como Catarina a Grande ou a Imperatriz Messalina mudaram a história. Sabe-se lá se são verdadeiras todas as histórias atribuídas a essa gente.
Lyndon Johnson é descrito como sexo-maníaco que mostrava o pau pra quem quisesse ver, o qual ele supostamente apelidou de Jumbo, por causa do tamanho, mas essas escapadas não afetaram necessariamente as políticas de seu governo. 
Ep 4 – Sexpocalipse mostra notórios casos de perseguição à sexualidade, como o Dr. Kellogg’s que em parte criou os sucrilhos pra tentar diminuir a masturbação, baseado numa ideia pseudocientífica da Idade Média de que havia alimentos facilitadores do celibato. Também fala dos campões de cruzadas morais, como Charlie Keating, que perseguiu tanto a pornografia, mas acabou condenado como estelionatário e por crimes financeiros milionários. A história está cheia dessas figuras. No Brasil atual há tantas, e o pessoal não aprende. Pensando bem, é um episódio pouco animador pra pensar sobre a espécie humana. 
Ep 5 – Sex and Power tenta provar que a História poderia ter sido diferente em alguns casos, devido a comportamentos sexuais de líderes como Kennedy, que não perdoava rabo de saia, mas quase se enrascou por ter transado com uma alemã oriental, caindo nas garras de J. Edgar Hoover, que, subsequentemente também usou dossiês com escapadas sexuais de senadores pra coibir problemas no Senado pra JFK.
Ep 6 – Superheroes of Sex fala sobre indivíduos que exerceram influência positiva ou negativa sobre a educação sexual ou informação sobre o sexo. Aprendemos que os talentos de Da Vinci pareciam inesgotáveis, porque também estudou as causas da ereção peniana pra constatar se a acepção religiosa de que o pipiu endurecia porque se enchia de ar era verdade. Como dissecar cadáveres era proibido, o pintor da Mona Lisa pagou ladrões de sepultura pra descolar presuntos. Outra figura abordada foi o masturbador contumaz Anthony Comstock, que, bem caracteristicamente desses infames perseguidores por motivos sexuais, influiu pra efetivação duma lei que proibia a veiculação pelo correio de qualquer material considerado pornô. Bem EUA mesmo, prega tanto a liberdade do indivíduo, mas tem um problema danado em aceitá-la. Ep 7 – Sex and War – desde sempre sabemos que guerra anda junto com sexo, prostituição e propagação de DNA e doenças e o documentário dá diversos exemplos, como Gengis Khan que transou com tantas que atualmente porcentagem significativa de asiáticos pode ser descendente do mongol. Outa parte interessante demais é a britânica que não hesitou em usar o corpão pra tirar informações do governo francês colaboracionista dos nazistas; viraria um filme bem legal. Ep. 8 – Extreme Sex aborda o sexo levado ao extremo e cita as batidas histórias de Nero (bocejo) e Aleister Crowley, mas a parte que interessa mesmo é comoo Ted Roosevelt no afã de combater a superpopulação de prostitutas em Nova York terminou por facilitar seu serviço. Isso na virada do século XIX pro XX; muito bom pros dedicados a afirmar que “antigamente o povo tinha mais vergonha na cara” e asneiras afins.

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