quarta-feira, 18 de maio de 2011

CONTANDO A VIDA 34

Os leitores já se detiveram a pensar no papel cultural que as farmácias têm no Brasil? O Professor Sebe sim, e, hoje, vem com um texto instigante sobre a febre expansiva deste comércio que só faz crescer e se multiplicar no patropi.


FARMÁCIAS... Termômetro social.
José Carlos Sebe Bom Meihy


Sim, falemos de farmácias. Poucas pessoas dão conta do significado das drogarias em nossos cotidianos. Acostumados desde a infância a recorrer a elas, deixamos de avaliar o que representam em termos de cultura e como atuam decididamente em nossos processos vivenciais. Combinemos, estamos falando do Brasil, das farmácias espalhadas por todo território nacional a ponto de virar referenciais indicativos de nossas casas. Dia desses li um anúncio de venda de imóveis e vi que o fato de ter farmácia próxima era atributo valorativo, como supermercado, estação de ônibus.
Abordemos, inicialmente, a questão pelo contrário, ou seja, pela presença – ou ausência – desses estabelecimentos em outras plagas. Recentemente precisei, na Espanha, comprar um simples medicamento para dor de cabeça, algo tipo tylenol e demorou muito, muito mesmo, para achar. Tive que andar quadras. Repetiu-se isso com material de higiene e tardou para que entendesse ser mais fácil buscá-los em supermercados ou grandes magazines. Como é difícil achar farmácias na Europa. Lembro-me de gastar sola de sapato na Alemanha para descobrir um lugar adequado para mero anti-inflamatório e na Holanda fiquei surpreso ao perceber que o sentido de drogaria estava mais ligado ao consumo e controle de drogas do que à venda de produtos de saúde. Chama atenção o fato de serem lugares pequenos, modestos, além de escondidos. Que dizer da dificuldade de comprar remédios nos Estados Unidos? Em recônditos lugares, sempre atrás de gôndolas nas vastas drugstores, escondidos estão os balcões onde especialistas fuçam receitas como cães controladores de remédios que nos soam elementares.

Entre nós tudo é muito diferente. Em cada esquina uma, duas ou mais farmácias e são iluminadas ao máximo. Todas ostentando concorrências e se ufanando de vender medicamentos mais baratos. Há uma guerra de preços e isto faz entender inclusive nossa vanguarda nos genéricos. O que dizer do crédito proposto, da venda à cartão e dos descontos para a “melhor idade”? Funcionários públicos têm vantagem em algumas praças. Noutras, cadastros garantem economia e nem faltam as cooperativas que pressionam a baixa de custo para seus agregados. Há algo de sinistro nesses detalhes. Sem querer, delegamos um culto impensado às doenças e nos familiarizamos com curas acessíveis. Tudo sem muito esforço. É – desculpem-me pelo lugar comum, inevitável no caso – doente o jeito que lidamos com os tratamentos dos males do corpo. Não deixa, aliás, de ser cômica a atual concepção brasileira de farmácia, pois além de remédios, produtos de beleza se compõem ao lado de itens de higiene. Soube recentemente que chocolates e algumas outras guloseimas, inclusive sorvetes, podem ser vendidos nesses lugares. A alegação é que tais produtos têm a ver com a saúde. Dia desses, soube de uma vizinha que compra água mineral em farmácia e como há uma mais perto de casa acha conveniente não ter que ir mais longe. Pode?
Somos um país jovem, de pessoas que prezam o culto ao corpo e isto fica patente nas revistas de moda, de comportamento e no noticiário em geral. O uso de pouca roupa é característica nossa e nos orgulhamos do sol tropical que vale como desculpa para mostrar tudo. Mas, quando relacionamos nosso exibicionismo com a presença das farmácias ficamos atônitos e nos perdemos em explicações complicadas, pois, afinal, como pode um povo que tanto se mostra e propala a beleza da juventude ser o mesmo que admite farmácias multiplicadas?
Roberto DaMatta vive repetindo que “o Brasil não é para iniciantes”. Não é mesmo. Somos de uma complexidade que exige requinte analítico para permitir algum avanço compreensivo. As redes de farmácia servem para provar isso. Além dos dilemas interpretativos de nossa cultura, as redes de farmácias potencializam outros problemas: a medicação indiscriminada. Até parece que não precisamos de médicos, pois muitos de nossos farmacêuticos ou mesmo vendedores ou atendentes desses logradouros se arvoram de doutores e declinam receitas a torto e a direito. O enunciado da problemática das farmácias em nossa cultura, sem dúvida, é um termômetro importante para medir nossa febre. Falar deste assunto é algo que merece cuidado, pois temos que nos alertar contra problemas consequentes marcados por vícios doentes.    

Um comentário:

  1. Em 89 fui prestar serviços ha uma cadeia de farmacias 24h fasiamos convenios entre a farmacia e a empresa ... toda compra feita na farmacia durante o mez era descontado da folha de pagamento do funcionario e a empreza repassava o dinheiro para a farmacia .a farmacia vendia de tudo de bola de futebol até produtos como :chocolate bolacha leite etc. O convenio com as emprezas garantiam o pagamento dos funcionários das empresas à farmacia ..ho ho ho ..Miguel

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