quarta-feira, 2 de novembro de 2016

CONTANDO A VIDA 170

QUE PAÍS É ESTE?! 

José Carlos Sebe Bom Meihy

Confesso que fiquei surpreso quando descobri que a origem da inquietante frase “que país é este?!” não tem origem na indignação cantada pelo saudoso Renato Russo. Mais frustrante ainda foi saber que decorreu de Francelino Pereira, quando presidente da ARENA - ensaio de partido político que defendia o lado mais conservador da ditadura militar. A desabonar ainda mais essa origem prosaica, soube-se que a tal expressão foi pronunciada de maneira bem rasteira, como um desabafo, quando o político esperava um elevador que não chegava, na Câmara Municipal de São Paulo. Por uma ou por outra via, porém, o sentido de preterição permanece e continua a se justificar em dimensões diversas. Pensando nessas significações eu mesmo me perguntei, mas na realidade “que país é este?!”
A fim de ser mais exato, resolvi elaborar uma reflexão sobre situações em que caberiam aquela pergunta sempre tão aflitiva. Foi quando, então, resolvi pelo filtro da fome/obesidade. A melhor fonte para tal averiguação remetia ao Relatório da ONU, datado de 2015. Comecei bem, quando aprendi que a “redução mais significativa da fome no Brasil aconteceu em 2012, nesse ano, o País alcançou duas metas da entidade internacional: cortar pela metade o número de pessoas passando fome e reduzir esse número para menos de 5% da população”. O entusiasmo inicial, contudo, logo foi embaçado por outros dados constatados frente os comentários complementares que diziam que os “subalimentados são 3,4 milhões no Brasil, pouco menos de 10% da quantidade total da América Latina, 34,3 milhões”. Então ouvi a voz do bardo Renato Russo se insinuando: “que país é este?!”
Tudo se complicou quando notei pelas recentes pesquisas do IBGE que “mais da metade da população brasileira está acima do peso (56,9 %)”. Os dados mostraram ainda que a obesidade acomete um em cada cinco brasileiros de 18 anos ou mais em 2013 (20,8%), sendo que o percentual é mais alto entre as mulheres (24,4% contra 16,8% dos homens). Em dez anos, a obesidade entre mulheres de 20 anos ou mais passou de 14,0% em 2003, segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), para 25,2% em 2013, de acordo com a PNS. Entre os homens, o crescimento foi menor, de 9,3% para 17,5% e o acúmulo de gordura abdominal também, mostrando-se mais frequente no sexo feminino, atingindo 52,1% das mulheres e 21,8% dos homens. O oposto ocorre em relação à pressão arterial, cuja elevação foi mais comum entre os homens (25,3%) que entre as mulheres (19,5%), atingindo 22,3% da população no momento da entrevista, então, outra vez me perguntei: “que país é este”?!
Fiquei curioso quando contrastei os números e li as reflexões. De um lado, temos um índice de pobreza e fome assustador. De outro, figuramos como campeões da obesidade latino-americana. Sabem o que aprendi frente a tudo isso? Que agora, mais do que nunca, vale o questionamento: “que país é este?!”

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