segunda-feira, 21 de novembro de 2016

CAIXA DE MÚSICA 245

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Roberto Rillo Bíscaro

Como os álbuns sobre os quais quero comentar acumulam-se, nada melhor que uma dobradinha. O elo é que ambos são de cantoras estreantes.

Izzy Bizu ganhou apoio da BBC, incentivo de críticos como artista promissora e até descolou vaga pro badalado festival de Glastonbury. Dia 2 de setembro, saiu A Moment Of Madness, que em sua versão Deluxe tem 17 faixas e é excessivo; ela ainda não possui força/material pra tantas canções.
Com o pop voando à frente da velocidade da luz, a inglesa soa retrô, porque remete à fase da primeira Adele ou quando Amy imperava com seu Back To Black. Mas Bizu carece da potência vocal da superestrela Adele e quanto a Amy nem é preciso comentar, porque nem Adele lhe faz sombra. Faixas como Diamond e What Makes You Happy atestam essa falta de madureza vocal. Nessa última, arremedo de blues, a comparação chega a ser dolorosa; JJ Thames daria conta, mas quando o material é um bocadinho mais denso, Bizu derrapa. Dessa canção adiante, a sucessão de faixas apenas OK torna A Moment Of Madness quase entediante.
Pra material mais pop, a moça manda bem, e isso não é defeito. A Criação precisa de boas cantoras pop. White Tiger é uma delícia com suas palminhas e piano saltitante. Skinny é pastiche Motown com pandeiro e tudo; é muito legal, mas mesmo nesse bom momento, uma voz mais maturada faria bem. Adam & Eve é chamber pop anos 60, com o tipo de guitarra que Belle & Sebastian ama. Gorgeous é totalmente patinável com seus metais gospel. Oh, gorgeous, everyone around you just adores ya; não paro de cantar. Com boa edição nos arquivos, dá um EP muito agradável, porque mesmo momentos em que ela descaradamente tenta imitar Amy, como Lost Paradise, soam simpáticos.
Potencial existe; esperemos que não ocorra o mesmo que com Dionne Broomfield, outra promessa de sucessora de Amy, que naufragou em 2011 e ainda não conseguiu lançar outro LP.

Flora Martinez nasceu em Montreal, filha de mãe canadense e pai colombiano. De país e pais bilíngues e tendo passado anos em Bogotá, a jovem é trilíngue e atua como atriz em ambos países. Em setembro lançou-se como cantora com álbum homônimo.
Sua pegada é transformar canções dos mais variados estilos e épocas em elegantes melodias jazz ou bossa-nova. Fica tudo bem chique e apropriado pra vernissages, com muito sax, pistão e vozinha maviosa. Não é novidade, porque os franceses do Nouvelle Vague e a argentina Sarah Menescal já fazem isso, mas é muito agradável. Fãs de lounge, tipo Simona, também gostarão.
A dezena de regravações transforma em jazz/bossa números dançáveis como Happy (Pharell Williams) e Safe And Sound (Capital Cities); rocks, como Gimme Shelter (Rolling Stones); indie rock, como The Scientist (Coldplay); R’n’B, como Let’s Stay Together (Al Green, mas repopularizada nos 80’s por Tina Turner) e até a já jazzística The Captain Of Her Heart, sucesso oitentista do suíço Double (pra quê, não se sabe bem). Sua proficiência linguística permite-lhe revisitar clássicos latinos como Los Aretes de la Luna (Célia Cruz) e o pop-rock argentino do Soda Stereo, cuja De Música Ligera é uma das exceções: vira meio downtempo eletronizado, boa pra chill ins e chill outs.
Com xilofones, pianos, bongôs e violões, Flora Martinez relaxa, proporciona bom ambiente, deixa reuniões mais sofisticadas. E está no Youtube: 

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