segunda-feira, 25 de julho de 2016

CAIXA DE MÚSICA 228



Roberto Rillo Bíscaro

Kandace Springs é da geração despontada no rastro de pólvora da internet. Filha dum produtor musical da não apenas sertaneja Nashville, a jovem jogou vídeos online e foi convidada pra talk shows importantes, jam session na casa de Daryl Hall, gravou EP com produtor badalado e acabou na mansão-estúdio do finado Prince, pra tocar na comemoração dos 30 anos de Purple Rain. Foi aí que o gênio baixinho de Minneapolis deu-lhe o conselho faltante: seja você mesma. Parece óbvio, mas era o que Kandace necessitava ouvir. Pra seu álbum de estreia, Soul Eyes, lançado há um par de semanas, a ex-guardadora de carros deixou a electronica do hip hop e concentrou-se em suas raízes soul, R’n’B e jazz.
Está quase tudo devidamente popificado pra tocar em FMs de coroas e muitas faixas nos fazem pensar que já ouvimos aquilo antes. Tente delicinhas easy listening como Talk To Me, Place to Hide e Thought It Would Be Easier; não importa se a matriz é jazz ou soul, mas existe aquele reconforto de se sentir em território familiar. Isso funciona em outro nível: diversas canções são regravações, mas isso deixo à descoberta do leitor-detetive.
Soul Eyes é jazz esfumaçado com vozeirão Nina Simone e fica ainda mais chiquérrima quando entra o trompete de Terence Blanchard, que volta na igualmente classuda Too Good To Last. Leavin’ é balada gospel com coro e tudo. Neither Old Nor Young é perfeita pra sacar o potencial da voz de Kandace, porque o arranjo é discreto (já ouvi algo do Spyro Gyra com a Basia que lembra isso?). Também é ótima pra mencionar que o ouvinte deve prestar bastante ao criativo piano ao longo de Soul Eyes, tocado pela própria Kandace. Novocaine Heart é pra ouvir patinando; que fofura a melodia mid-tempo com percussão de sambinha-canção.
Kandace Springs ainda está buscando seu nicho, mas Soul Eyes estreia bastante bem e pode agradar desde fãs de Burt Bacharach, passando pelos da New Bossa oitentista do Style Council e Everything But The Girl até a geração Norah Jones. O potencial e qualidade de Springs são tantos que a gravadora que a contratou é a Blue Note, a mesma de Gregory Porter, com o qual faz shows, inclusive. Mundo pequeno, grandes talentos. 

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