terça-feira, 19 de julho de 2016

TELINHA QUENTE 221

Roberto Rillo Bíscaro

A bola da vez no telemundo cult parece ser pequena voga de séries belgas. A primeira temporada de Cordon (2014) foi exibida numa das BBCs e ganhou refilmagem norte-americana, chamada Containment. A mesma emissora britânica exibirá a série de humor-negro The Out-Laws. Além disso, li elogios sobre 2 policiais: La Trêve e Enemi Public. Já resenhei Salamander.
O tema das prostitutas estrangeiras na Europa já aparecera em episódios de diversas séries escandinavas e depois que li e resenhei Prostituição à Brasileira, de José Carlos Sebe Bom Meihy, quis saber mais. Pra criar background pra possível onda belga (Cordon está num HD há meses), vi as 2 temporadas de Matrioshki (2005-7), que mostra que Bélgica e Holanda são teteias apenas dependendo do lado em que se vive.
O título alude às bonecas russas vendidas em profusão nos pontos turísticos da terra de Putin. De madeira, há uma série de bonecas idênticas dentro da outra, até a última ser maciça. A metáfora da quantidade e anonimato de massa do vagalhão de moças pobres oriundas da Europa Oriental, que vem à rica parte ocidental e são brutalmente exploradas é oportuna, esperta e triste.
São 20 capítulos, sendo que os 10 da segunda temporada expandem a geografia e mostram como a Tailândia também exporta prostitutas e esposas pra europeus que as veem e tratam como meros objetos.
Não estudei ou li muito sobre o fenômeno, mas a organização retratada em Matrioshki, embora estruturada e tentacular, não é tão eficiente, porque os membros desperdiçam muitas oportunidades e deixam muitas brechas, devido a rusgas internas. Claro que se trata de programa de TV e não documentário, então pra haver conflito talvez o roteiro tenha preferido deixar os caras maus menos eficientes.
Embora não seja sensacional, Matrioshki vale por exibir realidade bem distinta daquela dos noticiários que exalam sentimento de inferioridade perante o suposto fechamento de presídios holandeses ou o elevado IDH belga. Pode até ser birra Bélgica-Holanda, mas a pátria de Van Gogh é temida até pelas prostitutas escravizadas na Bélgica, que não querem ir pra lá pra servirem 20 caras duma vez. Além disso, há intimidação de jornalistas, corrupção policial e um bando de europeus jecas, nada merecedores do título de “desenvolvidos”. E também o triste retrato do leste europeu com locais tão desconhecidos quanto a África, porque afinal, o ex-bloco comunista é a África europeia, onde leilões humanos são realizados e os preços das moças varia de acordo com sua etnia.
A primeira temporada está completa no Youtube, em espanhol. Foi esta versão que vi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário