sexta-feira, 29 de março de 2013

PAPIRO VIRTUAL 49

Roberto Rillo Bíscaro

Não tive curiosidade de ver nenhuma das filmagens das Crônicas de Nárnia. Nem conhecia direito o teor do clássico infanto-juvenil do inglês C. S. Lewis. Decidi ler os 7 livros que compõem as crônicas, porque há 20 anos vi e amei Terra das Sombras, com Anthony Hopkins e Debra Winger.
O filme conta sobre o casamento do escritor com uma norte-americana, que contrai câncer. Real e triste, a narrativa enfoca o efeito de tanto sofrimento no pensamento religioso do autor, embora contenha referências a sua obra pra crianças.
Optei por ler a coleção desobedecendo à cronologia das publicações. Ao invés, procurei num site de fãs a ordem mais lógica pro desenvolvimento da série. Por isso, comecei pelo sexto livro na ordem de publicação: The Magician’s Nephew (1955).
O sobrinho em questão é Digory, que, sem querer, descobre que seu esquisito tio Andrew é um mágico mesquinho e do mal, ainda que muito sem poder. Mesmo assim, Tio Andrew encontrara o material pra fundir 2 anéis que permitiam viagens através de quaisquer dimensões do universo. Lewis e o autor do Senhor dos Anéis eram muito amigos e tinham um clubinho informal pra discutir histórias em processo de escrita. Esse pessoal reunia-se num pub e autodenominavam-se Inklings (veja Terra das Sombras).
Junto à vizinha Poly, Digory começa a ir de lá pra cá em reinos mágicos, até que acidentalmente traz perversa e poderosa bruxa à Terra. Pra se livrar dela, chega à Nárnia, bem no momento de sua criação pelo leão Aslan.       
O livro funciona como o Gênesis da mitologia infanto-cristã requentada por Lewis. Não faltam maçãs e tentações da bruxa pra que Digory traia o criador Aslan.  É justamente a visão da Terra criada como domínio do Homem que explica o fato dum leão criar um mundo apenas pra dá-lo a reis humanos pra que o governem. No mundo pseudo-harmonioso do humanista inglês, igualdade não está em alta, posto Aslan – personagem meio chatinha e sentenciosa – conceder o poder da fala e do pensamento a apenas um casal de cada espécie criada por ele. Bem, não há menção a abelhas e insetos pensantes e falantes, reduzindo ainda mais a “democracia” animal do escritor. E, claro que os humanos não são criados pelo Leão – isso seria heresia demais! -, antes, vêm importados de nosso mundo.
A escrita de Lewis é bastante coloquial e muito frequentemente reproduz a oralidade de alguém contando uma história, bem “britanicamente”.

Um comentário:

  1. Parabéns pela matéria e pela música !!!
    Abraços amigo Roberto
    Stella Maris

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