segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

CAIXA DE MÚSICA 350

Roberto Rillo Bíscaro

Jean-Philip Grobler nasceu e criou-se na África do Sul, estudou música na Liverpool dos Beatles e se mudou pra Nova York, onde está até hoje.
Influenciado por Phil Collins, Sting, Radiohead, Fleetwood Mac, Boys II Men, Michael Jackson e boa parte boa da cambada oitentista, Grobler grava sob o nome St. Lucia. Ele até tem banda, mas St. Lucia é ele mesmo.
When the Night, o primeiro álbum, saiu em 8 de agosto, de 2013, pela Columbia, selo onde permanece. Quem vibrou com o segundo álbum-solo de Brandon Flowers ou o supergrupo indie Dreamcar, ou, para simplificar, quem ama o pop sintetizado da década de 1980, não tem porque não venerar St. Lucia. O melhor da produção está nas 11 faixas, sem o excesso das baterias eletrônicas.
A versão do Spotify tem uma dúzia de faixas, porque traz acústico dispensável de Closer Than This, que em sua deliciosa aparição original, lembra o easy listening oitentista do Fleetwood Mac. Dá até pra imaginar Stevie Nicks entrando nos vocais. The Way You Remember me é daqueles new waves pra dirigir em freeway; tem até sax, instrumento-símbolo da saxodécada. Phil Collins realmente impactava nesse primeiro álbum: The Night Comes Again não tem como não lembrar seu No Jacket Required, mas sem soar cópia. E quer mais Phil do que o naipe de metais fake de Elevate? Wait For Love tem aquele climazinho de aldeia africana recriada em estúdio nortista frio, tão Nick Kershaw, Howard Johnson ou símiles. Too Close é uma das delícias dançáveis com seus barulhinhos eletrofuturistas e bateriona bem cadenciada. Ouça When The Night e me diga qual grupo synthpop oitentista não usou esse riff de teclado. Mas o álbum não é cópia descarada: September tem cheirinho de Giorgio Moroder, mas sua estrutura repetitiva lembra mais o estouro techno já dos anos 90 ou um daqueles remixes que vinham nas edições de luxo dos álbuns do Pet Shop Boys

No ocaso de janeiro de 2016, saiu Matter, que alcançou a altíssima posição 97 na Billboard, mas deverá ser obrigatoriamente conferido por todos amantes da sonoridade da década de 1980, especialmente a da primeira metade, talvez mais especificamente entre 83-6. As 11 canções têm arranjos mais encorpados que as da estreia e a fluência do St. Lucia nos idiomas musicais oitentistas deslumbra.
São tiques e retoques que se sucedem/reptem/sobrepõem, criando a sensação de uma década de oitenta inventada pro álbum. Home, por exemplo, não tem como negar o parentesco com alguma coisa de Michael Jackson imediatamente pré-Thriller, mas a chave é synthpop. Os seis minutos e meio de Rescue Me são locomotivas possantes, repletas de toda sorte de barulhinhos 80’s, mas sem deixar de piscar bem forte pra 1999, de Prince. A caça por referências pode ir tão longe a ponto de identificar quais canções de Matter tiveram homônimos no decênio: aqui dou duas dicas, Do You Remember e Physical, esta última, quase inacreditável paulada eletrodançante, nível New Order
Help Me Run Away é o tipo de power pop, que deixou Rick Springfield famoso e o arranjo de Stay é pra ser estudado, de tão criativo e bem-feito. Abre com apitinhos de Carnaval e durante boa parte parece nem ter percussão, que, quando surge, enfim, não é bombástica, como a esperada num revival 80’s. Estudo de caso pra arranjos que se metamorfoseiam aos poucos. Não quer ouvir álbum pra estudar, apenas pra se divertir? Apoio! Não faltarão riffs adoráveis de teclado, como em Dancing On Glass e fofuchices, tipo The Winds Of Change. 

Dia 21 de setembro, de 2018, saiu Hyperion, novamente com texturas luxuosas, mesclando elementos que não necessariamente caminhavam juntos nos anos 80. Em Walking Away, teclado grave e algo lúgubre coexiste com a aguda guitarra funkeada à Nile Rodgers. Em Gun, o St. Lucia faz quase um synth-AOR: é um clima bem powerpop, daqueles roqueiros, quase, cujo refrão soa ótimo pruma trilha de comercial dos cigarros Hollywood, nos 80’s. Na calma Next To You, a batida é de bossa-nova.
Nesse álbum, percebe-se a procura por caminhos além-anos 80. Na catártica Paradise Is Waiting, o sul-africano lança mão da mesma batida e coro gospel que George Michael usou em Freedom, levando a um clima início dos anos 90. A deliciosamente pulante China Shop sintetiza elementos de música chinesa, com vocal que remete ao de Morten Harket e, mais pro fim, encaixar-se-ia tranquilamente num dos álbuns do Pet Shop Boys, da primeira metade dos 90’s. Nos seis minutos da derradeira You Should Know Better, o pop não se torna inacessível, mas há menos preocupação em melodia instantaneamente fácil. A gente fica curioso pela trilha escolhida pro próximo álbum.

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