terça-feira, 16 de maio de 2017

TELINHA QUENTE 259

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Roberto Rillo Bíscaro

A Dinamarca destacou-se no mercado mundial de TV a partir do sucesso de Forbrydelsen na Inglaterra e a subsequente explosão cult do Nordic Noir. O peninsular reino passou a ser conhecido por séries sombrias como Bron/Broen ou dramas políticos sérios como Borgen. Graças à Netflix, lado mais ameno e algo divertido do país europeu pode ser conhecido através dos 24 capítulos das 3 temporadas de Rita. Originalmente produzida pela TV2, a Netflix coproduziu a terceira temporada, garantindo não apenas distribuição mundial pelo serviço de streaming, mas dublagem em diversos idiomas – inclusive o português – pros preguiçosos de ler legenda.
Rita é o equivalente dinamarquês de Merlí: professora adorada pelos estudantes, mas sempre enrascada fora da sala de aula, por não saber lidar com autoridades (mas os alunos têm que respeitar a dela) e emoções. Será que pra ser “bom” professor há que ser emocionalmente imaturo e inseguro? Será que alguém assim pode ser bom mestre?...
Separada do marido, Rita tem 3 filhos, de que o roteiro logo percebe que não dará conta e elimina 2 (sem tragédia, não é Nordic Noir), deixando apenas o mais novo e gay. O grosso da série é a postura pouco convencional de Rita perante seus alunos, desafiando pais e colegas, fumando na escola, levando advertência, falando coisas brutalmente sinceras e constrangedoras, mas sempre resolvendo tudo. Como entretenimento, a série é uma belezura. A maioria das personagens não é mera caricatura superficial de ser humano e uma em particular é tão adorável que ganhou série própria, Hjordis.
Menos didática que Merli, porque não se propõe a “ensinar” conteúdos, Rita ainda assim se sai bem também no quesito aproveitamento pedagógico. É muito interessante ver como um país onde o aborto está liberado há muito tempo e tem fama de ser socialmente progressivo, representa questões como homossexualidade, inclusão, decisão de manter ou não um feto e até mesmo infestação de piolhos. Sim, a riquérrima Dinamarca também tem piolhos e gays ainda sofrem piadinhas discriminatórias, mas o modo como abordam essas questões está realmente muito adiante de nós, então, vale ver.
Como em Merlí, não dá pra esquecer que a condição de possibilidade pra existência desses mestres heterodoxos reside na postura bem pouco realista de seus alunos-criações-de-roteiro. Todo mundo quer professores como o catalão e a dinamarquesa, mas professores também sonham com alunos como os deles: que ficam calados, prestando atenção às explicações; fazem os deveres de casa e atividades em grupo em sala; falam cada um de uma vez; sentam-se mal Rita e Merli entram na sala e estão prontos a melhorar ao menor estímulo de seus mestres (que nunca aparecem superlotados de aulas ou sendo agredidos por classe berrando descontrolada).
Conscientes de que não se pode esperar mudança dos professores sem contrapartida discente, Rita pode ser fonte de muita diversão e discussão. Talvez consenso entre professores e alunos pra tentar uma mudança? Acho que baixou uma Hjordis rápida em mim!

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