quinta-feira, 12 de abril de 2018

TELONA QUENTE 231


Roberto Rillo Bíscaro

Produções artísticas de toda sorte ambientadas em mundo pós-apocalipse nuclear estão longe de ser novidade. Mas, no início dos anos 1950, quando o mundo ocidental ainda estava meio maravilhado com as potencialidades atômicas, um filme que acenasse com essa possibilidade de fim de mundo era novidade.
Possivelmente, o primeiro filme ambientado no pós-holocausto foi o semiesquecido Five (1951), escrito, produzido e dirigido pelo veterano do rádio Arch Oboler, que depois o vendeu pra Columbia Pictures distribuir.
O torvelinho de produções indie da década é um dos resultados do fim do monopólio dos grandes estúdios sobre o exibido nos cinemas, que no fim dos anos 40 não necessitavam mais depender apenas do mandado/ditado pelas MGMs da vida. Com ótima infraestrutura, bastante gente com dinheiro pra investir e circuito de exibição cada vez mais abrangente, produções de parcos 75 mil dólares como Five abundavam. Claro que vender pra grande estúdio era vantajoso pras indies, porque algum lucro era garantido. Era aquela coisa: os cinemas não mais eram obrigados a exibir o que os grandes estúdios queriam, mas se o sujeito não tivesse como distribuir, quem veria seu filme?
Five possui mais valor como precursor do que como filme; na verdade mais teatro pretensioso - e meio enfadonho - filmado. Seu conteúdo de ficção-científica quase inexiste, diluído pelo drama pseudoexistencialista das personagens falando, falando e agindo imbecilmente a ponto de se concluir que o planeta estaria mesmo bem melhor sem a espécie humana.
Após a guerra nuclear que fulminou maciça parcela da espécie humana, o planeta continua como antes, só sem gente. O céu segue azul (pelo menos intui-se no preto e branco de Five), nascentes despejam de íngremes montes, estradas estão intactas. De vez em quando uma placa entortada ou esqueleto dentro dum veículo com vidro quebrado, mas nada demais. Parece até que foi uma guerra com bombas H que dizimou o planeta, mas sem deixar fedentina de apodrecimento nas cidades.
Numa casa à beira dum penhasco (o detetive Bosch amaria!) 4 homens e uma mulher convivem após se encontrarem por acaso. Five é bem mais sobre relacionamentos humanos do que o fim do mundo. Tem personagem afro-americana (digno de nota praquela época esse protagonismo) que sofre racismo sem que este seja nomeado; tem a mulher songa-monga que dá medo de pensá-la uma nova Eva. Do jeito que são essas pessoas, qualquer recomeço de humanidade resultará em extermínio novamente, podem apostar.
Apesar da lentidão e pretensão dos diálogos, dá pra se divertir. Casal entra numa loja abandonada e ele comenta ”escute, não há sequer um rato!” pra reforçar a esterilidade terráquea. Na cena anterior os pássaros gorjeavam feito doidos! Quando plantam milho, celebram emocionados a primeira muda. Em meio a um deslumbrante campo coberto de grama e frondosas árvores. Claro que o maldito milho ou qualquer outra coisa brotaria ali!
Five usou o cenário pós-apocalíptico como ferramenta de marketing, porque poderia se passar numa ilha deserta ou numa cabana num pico de montanha isolado pela neve. O que Oboler queria mesmo era fazer draminha psicológico burguês. 

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