quinta-feira, 1 de março de 2018

TELONA QUENTE 225


Roberto Rillo Bíscaro

Na segunda metade de 1944, os alemães já sabiam que a guerra estava perdida, porque russos e norte-americanos esmagavam as fronteiras orientais e ocidentais do Reich.
Por inveja de sua beleza e importância histórica e pra procrastinar um pouco mais a vitória aliada, o alto comando nazista ordenou que o general Dietrich von Choltitz destruísse a capital francesa. Não serviria a nenhum propósito prático, mas Hitler era puro recalque, porque Berlim estava em frangalhos e Paris continuava resplandecente (não é de admirar, vide o colaboracionismo do governo do traidor Pétain). Como a Cidade Luz atrai turistas e terroristas em seus monumentos até hoje, sabemos que o plano não foi executado.
Baseado em peça teatral homônima, Diplomacia (2014) imagina encontro entre o general alemão é o cônsul sueco Raoul Nordling, que, apesar da nacionalidade escandinava, nasceu e viveu quase a vida toda em Paris e efetivamente atuou na negociação com o ocupador germânico pra diminuir o menos possível os danos na urbe.
O roteiro é típico teatro filmado: a ação se passa na noite de 24 pra 25 de agosto de 1944 e consiste basicamente em colóquio (in)tenso entre Choltitz e Nordling, titanicamente interpretados por André Dussollier e Niels Arestrup.
O diplomata sueco usa argumentos históricos e pessoais pra dissuadir o general a descumprir suas ordens. Pra aquilatar a fraqueza alemã, Choltitiz é o durão que desmorona devido a ataques de asma e sequer sabe que sua suíte de hotel possui entrada secreta, expondo seu flanco a infiltrações.
Essa ode parisiense é dirigida pelo diretor alemão Volker Schlöndorff, oscarizado por O Tambor (1979) e responsável pela transposição cinematográfica de The Handmaid’s Tale (1990), aquela mesma história que se tornou queridinha recentemente devido à serialização pra TV.
Diplomacia é prato cheio pra apreciadores de grandes interpretações e textos argumentativos. Algumas sequências de ação e imagens de arquivo inseridas não permitem que a narrativa caia na monotonia, às vezes associada a esse tipo de filme por quem não curte teatro filmado.
E que bom que ainda haja grandes papeis pra atores mais velhos como Dussollier e Arestrup, também estrelas da peça teatral.

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