segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

CAIXA DE MÚSICA 203

Roberto Rillo Bíscaro

Neal Morse tem história das mais interessantes no mundo do rock progressivo. Fundador da bem-sucedida Spock’s Beard e membro do multinacional Transatlantic, o poli-instrumentista converteu-se em fervoroso cristão depois que sua filha supostamente recebeu milagre de cura após sessão de oração. Desde então, lança trabalhos-solo de louvor prog, que, diga-se, pode ser considerado sub-gênero dentro do sub-gênero. Há até sites listando bandas de Christian Progressive Rock, conhecido como CPR entre os iniciados.
Acostumado a entrar em estúdio com muitas ideias e material composto, o norte-americano decidiu experimentar. Chamou feras como o ex-baterista do Dream Theater, Mike Portnoy, e em clima de jam sessions a The Neal Morse Band produziu The Great Experiment, em fevereiro de 2015. A edição de luxo dupla, com 10 faixas, é a que compensa adquirir.
O CD 1 abre com uma das melhores canções prog do ano, The Call. Alguém se saiu com memorável riff, que a abre e encerra, executado ora em guitarra, ora em teclado. A seção final, que leva à retomada dessa melodia, é uma catarse de interplay entre guitarra e teclas; convite quase irresistível para amantes de prog sinfônico a pressionarem frequentemente a tecla repeat. Se The Call tem defeito, é ter apenas 10 minutos e não os quase 27 do épico que conclui o CD.
A trinca que recheia os 2 grandes momentos prog do álbum é boa e simpática, mas rebaixa o nível do experimento de grande para bom. A faixa-título recua para o hard rock setentista e por momentos lembra o prog ianque de então, como Styx e Kansas. Vigorosa, mas The Great Experiment, a canção, já foi feita milhares de vezes. Waterfall é folk com lindas harmonias vocais sobre tecido de violões e alinhavos de piano. Agenda gruda na cabeça como qualquer bom pop-rock oitentista, do qual é parcialmente tributária.
Alive Again é o épico de quase 27 minutos que conclui a experiência, voltando a subir-lhe o nível para grande. Indo do quase thrash ao rococó, passando por momentos anos 60 meio The Moody Blues traz todos os elementos encantadores dos fãs de prog sinfônico: mudanças no andamento, oportunidades para todos os instrumentistas brilharem, perícia técnica indiscutível e grandes melodias. Mas, The Call é melhor, essa será a sina da canção.
O CD bônus não faz feio com números ao vivo orgiásticos, como The Creation e vigorosas faixas de estúdio como New Jerusalem e Doomsday Destiny. Aliás, são nessas 5 faixas que se percebe mais explicitamente as letras devocionais de Morse. O ponto alto, porém, é a regravação de MacArthur Park, composta no fim dos anos 60 por Jimmy Webb e que já ganhou até versão disco de 18 minutos de Donna Summer. A canção é épica o suficiente para permitir voos prog e os quase 11 minutos tocados por Neal Morse e amigos só reforçam isso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário