quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

TELONA QUENTE 143

Roberto Rillo Bíscaro

A pequena Bélgica foi sacudida por mais de um escândalo de pedofilia nos últimos 20 anos, envolvendo figurões públicos e até serial killer: Marc Dutroux, acusado de sequestrar, torturar, molestar e matar garotas. Será que foi essa negação explícita do status idealizado de país pacífico que levou o diretor Hans Herbots e o roteirista Carl Joos a adaptarem o romance da britânica Mo Hayder pro contexto belga? Qualquer que tenha sido o motivo, De Behandeling (2014) é muito desagradável, seja pelo tema, seja pelo roteiro aleatório e baseado em coincidências demais.
O Inspetor Nick Cafmeyer é assombrado pelo sequestro de seu irmão há anos, provavelmente vítima dum pedófilo que ainda avizinha a residência do policial e desova ossos de porco em seu quintal. Quando um garotinho some, Cafmeyer acha que tudo recomeçou e o desenrolar da trama revela um pedófilo mordedor, com fixação em urina e um monte de personagens repulsivos. A história do irmãozinho do inspetor também é tratada; o agora garotão está mais perto do que presumido, só ninguém explica porque o mantiveram vivo tanto tempo.
A despeito da empáfia europeia de parecer elegante, a produção não passa de exploitation film, pelo tom sensacionalista e a vontade de chocar. Não que violência contra crianças seja tabu e não possa ser tratada ficcionalmente, afinal, o mundo real que não se cansa de idealizar os infantes, também não enjoa de trucidá-los. E o excesso de morbidez poderia ser perdoado se estivesse a serviço dum bom roteiro.
Quase todo o tempo Cafmeyer perambula a mercê de coincidências e surpresas; que raio de protagonista é esse? A trama é artificial por demasia e em mais de 2 horas não conhecemos realmente nenhuma personagem. O caso da detetive-parceira de Cafmeyer é notável; é mais fácil empatizar com um controle-remoto, cuja função pelo menos é clara. Daria pra fazer tantas perguntas quanto o roteiro do argentino Séptimo suscitou, mas De Behandeling nem merece que eu perca mais tempo digitando.
;

Nenhum comentário:

Postar um comentário