quarta-feira, 19 de agosto de 2015

CONTANDO A VIDA 119

Partindo de uma letra de Lupicínio Rodrigues, nosso historiador-cronista interliga música, criação de filhos, maioridade penal, adolescência e mais num texto pra lá de sensível. 


DILEMAS DA JUVENTUDE...

José Carlos Sebe Bom Meihy

Lupicínio Rodrigues estava inspirado quando escreveu “Esses moços” e assim entoou palavras melodiosas “Esses moços, pobres moços/Oh, se soubessem o que sei/Não amavam, não passavam/ Aquilo que já passei/ Por meus olhos, por meus sonhos/ Por meu sangue, tudo enfim/ É que eu peço/ A esses moços/ Que acreditem em mim”. Mergulhei mais fundo no significado desta letra inspirada. E dei asas à imaginação. Ouvindo a voz inconfundível do falecido Jamelão, me deixei flanar em meditações sobre a diferença de idade e as responsabilidades do crescimento. Sim, como pode ser interessante o recado de uma geração para outra! Por certo, a referência do autor gaúcho remetia às questões amorosas, mas serve para outras esferas também. Nesta linha, aliás, precisamos ter claro que falo de uma idade mais avançada, alguém que já dobrou sete décadas. E do posto de minha dicção, me coloco como avô, pai, professor, alguém que enfim acha que acumulou algumas lições. É lógico que os anos somados não garantem muita coisa, pois há moços que detém mais vivência do que muitos velhos e muitos coroas que se apresentam como meninos. De toda forma, aprendemos que a juventude é mais bonita e desejada depois que passa. Enquanto somos jovens, vivemos querendo ser adultos ou, em tantos casos, voltar à infância. Assim, entramos no teor central desta conversa: os dilemas de ser adolescente e jovem.
Digamos que considerando a realidade atual, alguém ainda não é adulto ou maduro dos 12 até os 22 anos. Sei que essa proposta é criticável, mas levei em conta para tal indicação a média de idade do pais que é 69,4 anos. Também devemos ter em mente que dois fenômenos atrapalham a consciência da maturidade: o fato de se ampliar a geração “nem-nem” – dos que não estudam e nem trabalham – e o persistente fenômeno da “geração canguru” – que não deixam a casa dos pais até se casarem, e, o que é mais estranho, criticam os que optam por ter uma vida independente. E isso pode se estender, pois como se sabe, um em cada quatro brasileiros até 34 anos de idade quer continuar sob as benesses familiares.

No Brasil dois outros fatores contribuem para o atraso no amadurecimento geracional dos jovens: a infantilização dos comportamentos e o culto ao corpo. No primeiro caso, é incrível como, de modo geral, nossos filhos são tratados como crianças. A superproteção parece ser uma doença contagiosa, verdadeira epidemia, e o tratamento comum faz com que, principalmente na classe média, se interdite os filhos do amadurecimento desejável. Por outro lado, o conceito de corpo jovem, bonito, trabalhado, confunde a aparência. O encadeamento de deslocamentos culturais, por seu turno, provoca outras confusões que, sem dúvidas, são mais consequentes, porque se refletem na educação e na política. Vejamos, por exemplo, em termos educacionais como tratamos os jovens referindo-se “àquela idade”. De regra, desenvolvemos alguns preconceitos que tangendo o humor revelam incertezas. A palavra “aborrescente” está aí para provar de forma canhestra à tal “revolução nos hormônios” ou os gestos estabanados de quantos fisicamente deixam de ser crianças e ainda não atingiram a condição adulta. A precariedade dos conceitos é parte do jogo impreciso dado pela nossa cultura que calibra a aceitação etária dependendo do caso. Assistimos agora, de maneira absurda e desprovida de argumentos educacionais, a discussão sobre o limite da maioridade penal. Usando a violência e insegurança como critérios decisórios, nos perdemos da moral. Sem levar em conta que construir escola é mais barato e útil do que fazer presídios, esquecemo-nos de que existem classes sociais, e mais, que os penalizados, historicamente desfavorecidos, serão moços negros, sem educação formal, e sem oportunidades. Outra vez reponta a debilidade cultural de pensar uma política para os jovens, em particular os desfavorecidos. Questões sérias como o primeiro emprego, tempo parcial de trabalho, escolas de qualidade em tempo integral, são trocadas por temas vagos como impunidade. É aí que recobro a proposta de Lupicínio Rodrigues e repito para mim mesmo “moços, estes moços/ Oh se soubessem o que sei”, e, o que sei é que está tudo errado na consideração desta matéria.    

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