terça-feira, 14 de abril de 2015

TELINHA QUENTE 159


Roberto Rillo Bíscaro

O Imperador Claudio é importante na história britânica, porque durante seu mandato a conquista romana das ilhas efetivamente começou, no ano 43 da era cristã. Com várias limitações físicas e membro duma dinastia que contou com perversos e pirados do calibre de Calígula, Nero e Messalina, a vida e o tempo de Claudio são prato repleto pruma boa série infestada de traição, intriga, astúcia e superação. Tudo isso deve ter contado pra que a BBC adaptasse os romances de Robert Graves, em 1976. Eu, Claudio teve uma dúzia de capítulos e foi sucesso total de público e crítica.
Sob o ponto de vista de Claudio, a minissérie perpassa décadas, desde sua infância sob o reinado de Augusto, até sua morte por envenenamento como imperador. A dinastia iniciada por Júlio Cesar pode ser considerada como modelo irretocável de disfuncionalidade familiar. Ambição ou loucura pura e simples garantem um show repleto de incestos, envenenamentos e devassidão. O quanto disso é historicamente acurado não sei, mas garante diversão pra apreciadores de folhetim escandaloso. Pra parte do público contemporâneo, I, Claudius parecerá datada, porque é fortemente baseada em diálogos e narrativas mais do que na demonstração das atrocidades. Afinal, 1976 era outro planeta se comparado com a explicitude das telinhas e telonas atuais.
Manco, gago e cheio de tiques nervosos, Claudio sobreviveu naquele ninho de víboras, porque não era considerado ameaça devido a suas limitações, até porque ele de bobo não tinha nada e exagerava seus “defeitos”, até que, por falta de membros masculinos na família real, a Guarda Pretoriana proclama-o imperador. Sob esse aspecto Eu, Claudio satisfaz a ânsia do século XXI por histórias de superação, onde a sobrevivência do mais forte se dá não por aptidão física, mas por astúcia e diplomacia.
Exagera-se na benevolência do Imperador, mas se os roteiristas d’O Discurso do Rei passaram por cima das tendências antissemitas de George VI pra transformá-lo em exemplo de superação, por que não perdoar a excessiva bondade do Claudio televisivo? De qualquer modo, a personagem foi um presente prum ator como Derek Jacobi (de Titanic: Blood and Steel e Vicious, resenhados no blog), que certamente terá o papel mencionado nas notas fúnebres jornalísticas.

Não assisti via Youtube, por isso não asseguro que a dúzia de capítulos esteja lá, mas eis o link pro primeiro, legendado. 

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