quarta-feira, 8 de abril de 2015

CONTANDO A VIDA 105

Nosso cronista-historiador vive no Rio de Janeiro há diversos anos. Nesta crônica, ele indica pontos turísticos imperdíveis pra quem quer conhecer mais do que as belezas naturais da Cidade maravilhosa. 


RIO DE JANEIROS PARA NÃO INICIADOS.

José Carlos Sebe Bom Meihy
São decorridos 450 anos da fundação da Cidade Maravilhosa. Não seria errado dizer que a celebração deve ser do Brasil como um todo. O argumento que valoriza o Rio como significado nacional não se prende apenas às inquestionáveis belezas naturais. Logicamente, somos cativos das referências dadas pela combinação do mar recortado, florestas exageradamente belas e variadas, montanhas altas e abruptas, surpreendentes em variações. Por certo, a maneira de ser dos cariocas atrai e mostra a singularidade de uma metrópole que guarda o segredo de ser exótica, particular, e universal ao mesmo tempo. Vale registrar que, como Paris, Nova York, Roma, o Rio tem lugar preferente no gosto turístico de muita gente. Seja pelo samba, chorinho, pela gafieira, pela ginga das pessoas – não apenas das garotas de Ipanema – pela graça de um falar mais cantado do que outros, o Rio é único. Pois é, além de todas essas indicações que se alargam em detalhes, há algo mais no Rio que merece ser destacado.
A estratégia turística que propaga cantos da cidade tem valorizado as paisagens externas, os espaços abertos e iluminados. Infelizmente, pouco se fala do Rio de Janeiro dos recintos fechados. Aqueles que rompem a rotina das praias ou dos tais cartões postais se extasiam com a coleção de museus bem conservados e instrutivos, além de belíssimos. Recomendo com ênfase alguns deles: o Museu Nacional de Belas Artes – com a soberba coleção de pintura nacional, em particular do século XIX e XX; o Museu Histórico Nacional, que localizado estrategicamente no Forte da Praça XV esbarra nos limites da perfeição museológica do gênero - recomendo com destaque uma  boa parada na coleção de moedas que é a quinta mais completa do mundo; recém-inaugurado o Museu de Arte do Rio (MAR) junta dois prédios que combinam a arquitetura moderna com a eclética, e abriga exposições magníficas – em particular uma sala que saúda o Rio; o Museu de Arte Moderna, com o moderníssimo prédio que beija a Baia de Guanabara e guarda a coleção Chateaubriand.
Poucos sabem que temos a oitava maior coleção mundial de livros e que a Fundação Biblioteca Nacional oferece, diariamente, visitas guiadas pelas salas magnificas. Há um recanto maravilhoso que não pode deixar de ser recomendado, o Real Gabinete de Leitura que se constitui em um dos mais bonitos espaços, com coleção rara de livros e documentos fundamentais para o entendimento do nosso passado imperial. E por falar em Rio Imperial, a Quinta da Boa Vista, além do museu, se abre em jardins soberbos. Combinando espaços abertos e fechados não há como deixar de lado uma visita à Chácara do Céu que oferece uma coleção que além de telas de referência da pintura em geral detém o maior número de originais de Debret. O Centro Cultural Banco do Brasil é abrigado em um prédio exemplar e reúne além de salas de exposições, quatro teatros que, em conjunto, se mostram ponto obrigatório.

Ainda que Salvador na Bahia seja famosa pelas igrejas, o Rio perfila como uma das mais cativantes cidades a ostentar espaços religiosos católicos. A combinação e proximidade de duas igrejas de estilos extremados é irresistível. Em uma ponta a Nova Catedral cilíndrica, sugerindo a calda de um peixe. Interessante que a modernidade arquitetônica explica a circularidade da disposição dos bancos dimensionando a proposta da teologia da libertação. Não bastasse a beleza dos vitrais e a singeleza das poucas imagens, temos logo perto a mais bonita igreja barroca brasileira, no Convento Santo António a Igreja de São Francisco, da Ordem Terceira. Ostentando uma imagem de Cristo Alado, com seis asas, não conheço paralelo em termos de beleza barroca na América Latina. Ciente de que recomendações turísticas podem ser excessivas e produzir efeito contrário, paro por aqui, afirmando que seja pela beleza natural, seja pela exuberância dos espaços fechados, vale sempre a pena visitar o Rio de Janeiro.

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