segunda-feira, 13 de abril de 2015

CAIXA DE MÚSICA 165

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Roberto Rillo Bíscaro

O Ultravox me passou despercebido durante seu auge oitentista. Lia o nome na Revista Bizz, mas não tocava nas FMs do noroeste paulista e quando ouvia as rádios de Sampa nunca calhou de escutar. Vienna, álbum de 1980, foi lançado aqui em 82 e desconheço se outros trabalhos repercutiram no patropi. Ouvi a discografia somente graças à acessibilidade da internet e entendi porque entre 80-6 cravaram 7 álbuns na lista dos 10 mais na sua nativa Inglaterra.
Influenciados por krautrock, Roxy Music, Bowie, a banda teve seus anos experimentais coroados por Systems of Romance (1979), que abandonou a fúria punk pra desenhar a planta do castelo New Romantic. O sucesso comercial veio quando John Foxx partiu pruma carreira-solo respeitada e em seu lugar entrou o vocalista e guitarrista Midge Ure. O single Vienna decolou e virou clássico. Chapei quando escutei pela primeira vez, décadas após o lançamento. Kraftwerk com pop, muito drama e pose numa canção que tem longo instrumental, muda de tempo e logrou vender muito.
Ure colocou o Ultravox na seara comercial e, como ocorrido com The Human League e o Orchestral Manoeuvres in the Dark, a banda definiu a sonoridade synthpop da primeira metade dos 80s. À gelidez dos teclados, somaram vocais inflamados e riffs de guitarra contagiantes. Tinham a mesma propensão do U2 de compor hinos (uma de minhas favoritas chama-se justamente Hymn). Carreiras-solo, egos e o declínio do synth pop importaram pra dissolução em 86.
No Youtube dá pra ouvir uma coletânea da fase áurea (nada dos 3 primeiros discos), que recomendo com paixão. Prepare-se pra ter vontade de subir num monte de oliveiras e entoar as canções de braços abertos!
Nos anos 90, sem Midge Ure lançaram álbum que ninguém ouviu. Silêncio até 2009, quando a formação comercialmente clássica Warren Cann (percussão), Chris Cross (baixo), Billy Currie (teclado/violino) e Ure reuniu-se pruma turnê. Em maio de 2012, saiu Brilliant, álbum de estúdio com inéditas. Minha sina com o Ultravox é ouvi-los muito depois! Antes por escassez de oportunidades, agora por excesso de possibilidades. Artistas e álbuns demais pra checar/escutar, demorei pra chegar a Brilliant.
Seguindo os passos do último Duran Duran, o trabalho soa como se composto em 1983/4 e traz todas as características do Ultravox sem adicionar novidade.
A dúzia de canções traz as usuais faixas rápidas e energéticas aspirantes a hinos, como Live, Brilliant, Hello e Lie, que a turma de Ure faz de ouvidos fechados, porque têm a mesma estrutura e os cacoetes de piano elétrico, vocais sentidos etc.
Kraftwerk ainda é Bíblia: Rise tem teclados da fase Computer World (1981) e Change, de The Man Machine (1978). A primeira encaixa-se na categoria das aspirantes a hino, enquanto a segunda engrossa o problema de Brilliant: baladas entediantes como Remembering, One e Fall.
Pra atingir o tesouro de Briliant há que atravessar toda a chatice dessas baladas. Fosse o caso de o Ultravox ainda ter ouvintes casuais, sairia perdendo por localizar Satellite como penúltima da coleção. Épica, com solaço de violino e Midge Ure dramatizando o refrão; oh oh oh oh, I defy you/let your light shiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiine on me tonight/do, do what you know/know to be right/wondrous satelliiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiite. Pra pôr no repeat e ouvir até calejar os tímpanos. Nos 80’s a faixa entraria na parada, teria versão extended e depois seria incluída no Greatest Hits.
Brilliant é metade enfadonho e na outra metade satisfaz, culminando na perfeição de Satellite. Conselho: delete as tentativas de refazer Vienna, preserve a meia-dúzia de delícias synth pop e (re)viva os anos 1980.  

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