terça-feira, 20 de agosto de 2013

TELINHA QUENTE 87


Roberto Rillo Bíscaro


Quando menino, vivendo em Sampa, lá pelos distantes 1975-6, gostava do desenho Josie e as Gatinhas. Um trio musical feminino, que, com amigos, sempre derrotava algum vilão sedento por dominar o mundo. Quando começaram a exibir Josie e as Gatinhas no Espaço, não curti muito, nem sei mais o porquê. Talvez não simpatizasse com Bleep, alienigenazinho adotado como mascote em competição com o gato Sebastian, que nem sempre era o felino mais legal do universo e por isso tinha minha preferência. Doçura demais dá cárie.

O tema de abertura – sempre cantarolado - virou cult e mereceu até cover punk. Tirando essa referência, passei quase 40 anos sem ver Josie and the Pussycats, embora lembrasse duma cena: a turminha estava perdida no deserto e Alex, o medroso, reclama do sol escaldante. Alguém o corrige, dizendo ser noite, ao que o jovem retruca “ai que lua escaldante”.
Revi a cena há algumas semanas, porque assisti aos 32 desenhos produzidos pela Hanna Barbera. Josie e as Gatinhas seguia a linha de genéricos da produtora, que nos 70’s investiu na fórmula do grupo de jovens caçando fantasmas ou criminosos. Pra não ficar só com a cachorrada tipo Scooby Doo e Goober (quem lembra?), puseram tubarão (leia postagem sobre, aqui) e meninas vestidas de gatinha na fórmula.
Os 16 desenhos ambientados na Terra foram produzidos em 1970, mas as canções de Josie e as Gatinhas soavam datadas: ainda estavam na sintonia dos girl groups 60istas, como as Supremes, de Diana Ross (claro que sem nada da genialidade de Diana e suas gatinhas).
A ruiva Josie é a mais sem graça das personagens, nem dá pra entender porque leva o nome do desenho nas costas. A cabeça-oca Melody (estereótipo da loira burra) quando ri a gente se pergunta: ela é débil ou tá chapada? O gato Sebastian tem a risada parecidíssima com o do Mutley, cão animado famoso um dia.
A grande sacada da animação é Valerie, primeira personagem afro-americana de destaque num desenho animado. È a mais inteligente do bando, bastante assertiva e merecia ser a líder, mas isso não era possível no alvorecer dos anos 70. Pra se ter uma ideia, os realizadores tiveram que brigar com a Hanna Barbera pra Valerie poder ser negra. De qualquer modo, um passo exemplar na representação da pessoa negra cartunizada.
Os 16 episódios de Josie and the Pussycats in Outer Space (1972) são o Perdidos no Espaço versão Hanna Barbera. A encrenqueira Alexandra é a culpada de a turminha vagar pelo universo, que fala inglês e tem oxigênio em qualquer quadrante. Na encarnação espacial do desenho, os vilões são mais ambiciosos: querem dominar a galáxia ou mesmo o universo. O resto é praticamente igual ao original terráqueo, exceto pelas risadas enlatadas, que também empesteavam Tutubarão. A burrice de Melody fica um pouco exagerada demais às vezes. Enche. Mas, Valerie está mais genial e representa ainda melhor os afro-americanos.    
Curiosidade: num dos episódios, os habitantes brancos como papel dum planetoide querem apagar o sol, porque a claridade machuca seus olhos fotofóbicos. Adiantados a ponto de criarem um extintor estelar, as criaturas não conseguiam imaginar algo simples como óculos escuros. Cabe aos amigos da insossa Josie mostrar-lhes a escuridão. A palavra “albino” jamais é mencionada, mas fica implícito, né?

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