sexta-feira, 12 de outubro de 2012

PAPIRO VIRTUAL 39

Comprei as tragédias completas de Ésquilo, em espanhol, por módicos 20,00. Entrei na Estante Virtual, achei preço baixo e não resisti. Livro quase novo.
Ésquilo é aquele tragediográfo cuja morte é atribuída a uma tartarugada na cabeça, depois que uma águia soltou o quelônio na sua calva. Difícil de engolir, mas importante pra montar o “mythós” esquiliano.
Li Os Persas, tragédia mais antiga de que se tem notícia. Ótima ilustração do porque é bom tomar muito cuidado com os advérbios “nunca” e “sempre” em definições. Diversos conceitos de tragédia dão conta de que o material trágico é extraído de mitos (nem entrarei na discussão de que o que entendemos por mito não significava o mesmo pros atenienses no século V antes da era cristã).
Os Persas volta apenas uns dez anos no tempo e se passa imediatamente após a derrota persa ante os helênicos. A vitória das nanicas e fragmentadas cidades-estado gregas contra o poderoso, vasto e organizado império persa foi percebida como castigo divino pra ambição de Xerxes, que queria abocanhar mais do que cabia no bucho. Assunto sério (oi Aristóteles!), portanto, propício pruma tragédia. 

Imagino que seja necessária muita criatividade dum diretor pra encenar Os Persas hoje, sem que a audiência boceje. Estática, a peça consiste de cenas onde, basicamente, uma personagem por vez dialoga com o coro, contando fatos ou se lamentando. Por isso, fiquei curioso com o projeto Peep Classic Ésquilo, que está montando todas as peças do autor, em São Paulo, este ano. (leia aqui)
Pra ler, a não ser que você seja nacionalista grego, fica meio difícil se empolgar com uma peça onde nada efetivamente acontece, além de longas lamentações e impressionantes (maçantes...) listas com nomes de soldados persas, seu poderio bélico e riqu7ezas.
Sob o ponto de vista persa – outra “surpresa”, uma vez que nenhuma outra tragédia conhecida tenha apenas personagens estrangeiras -, essas listas cumprem a função de dimensionar o alto quilate de sua força imperial, tornando a derrota ainda mais espetacular aos olhos da plateia. O estilo de Ésquilo é grandioso e solene, mas, seus persas não mantêm a vitalidade duma peça euripidiana.
Em tempo, o tragediográfo lutou contra os persas. Isso está mencionado em seu epitáf io, que não cita suas inúmeras conquistas teatrais. 

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