domingo, 11 de março de 2012

SUPERANDO O PRECONCEITO DE COR

Ser negro é ser maioria no Brasil e é também saber desde cedo que a vida é cheia de desafios: na educação, na convivência social, na profissão.


Luislinda Valois é juíza do Tribunal de Justiça da Bahia há 27 anos. Não foi nada fácil chegar onde está hoje. A mãe era lavadeira, o pai motorneiro. A família se esforçou muito pra educar os quatro filhos.
Luislinda hoje ri, mas se lembra da indignação que sentiu quando era criança, não teve dinheiro pra comprar o material pedido pelo professor e ouviu: "Ele disse: se seus pais não podem comprar o material pra você estudar, então faça o seguinte pra você ser mais feliz: pare de estudar e vá aprender a fazer feijoada na casa da branca que você vai ser muito mais feliz", conta. 
O episódio deixou a menina Luislinda mais forte. Ela cursou direito, passou em primeiro lugar no concurso para procurador federal. Depois fez concurso para magistratura e tornou-se - como costuma dizer - a primeira juíza negra rastafári do Brasil.
"Eu sou muito decidida; eu digo que eu não sou retrovisor, eu não olho pra trás, eu só olho pra frente. Eu quero sempre crescer, crescer e crescer. Eu digo sempre que atrás de mim vem uma onda negra competente, querendo oportunidade e buscando essa oportunidade", declara.
Se o povo de que a juíza tanto se orgulha é maioria no Brasil - segundo o IBGE, negros são os que se declaram pretos ou pardos - eles também são maioria em grandes cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife e Salvador. 
Ganham, em média, menos do que brancos, têm menos acesso ao estudo, mas têm também milhares, milhões de histórias de superação, de gente que lutou e luta para melhorar esses números.
Nedivaldo Santana está há 27 anos no mercado de trabalho. Começou como fiscal de caixa de supermercado. Passou a chefe de seção, depois gerente e hoje, é diretor de loja e comanda uma equipe de 300 pessoas.
"A empresa sempre me deu metas e eu transformava essas metas da empresa nas minhas metas e eu sempre entreguei para empresa tudo aquilo que ela me pediu, por isso eu cheguei onde eu estou hoje", diz.
Durante todos esses anos, Nedivaldo sempre fez os cursos oferecidos pela empresa onde trabalha e essa participação tem sido decisiva na hora das promoções. Os cursos de qualificação profissional são procurados cada vez mais. Vinte por cento dos negros fazem esses cursos.
Um destes cursos é direcionado para a área da construção civil. São até 260 horas de aulas em cada curso para pintor, pedreiro, azulejista, gesseiro, encanador. Os alunos também têm aulas de português, matemática, meio-ambiente e legislação trabalhista. As famílias são de baixa renda. E é a vontade de ter uma profissão, de trabalhar, de ganhar mais que une essas pessoas.
“A área da construção civil está crescendo, então a qualificação nessa área é bom porque tem mais garantia de conseguir um emprego, um futuro”, diz Laís Conceição, estudante. 
“Hoje em dia as empresas pedem o curso e que você tenha completado aquilo pra ser classificado, se não você fica como ajudante a vida inteira”, diz Leoman Guirra, estudante.
“Pra que a gente consiga os nossos objetivos, tem que se qualificar em uma profissão que tenha ascensão pra poder a gente ir trabalhando... Eu sonho muita coisa, principalmente eu mesma fazer a minha casa”, comenta Ana Cristina Silva, estudante.
http://g1.globo.com/jornal-hoje/noticia/2011/11/conheca-historias-de-superacao-e-de-luta-contra-o-preconceito.html

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