sábado, 3 de setembro de 2011

O NADADOR MIGUEL NAUFEL


Miguel Naufel, nosso ocasional cronista albino, compartilha uma lembrança de seu pai-herói, que consertou uma situação de preconceito.

Meu pai, meu herói. 
Em 1970, a seleção canarinho faturava o tricampeonato de futebol. Nos anos seguintes, o Brasil todo respirava esportes. Todos os estados, cidades, empresas, clubes, escolas tinham um time. Mococa não estava fora dessa realidade nacional, afinal, tínhamos o Radium Futebol Clube e a maior nadadora sul-americana, Isabel Guerra. 
Eu cursava o colegial e era dispensado da Educação Física. As aulas eram em um pátio ao ar livre eu não podia me expor ao sol e não suportaria ficar sem os óculos escuros em plena luz do dia. Era mais um motivo para me sentir inferior. Afinal, esporte é vida e vida saudável...
Então, resolveram que eu deveria me dedicar à natação. Eu era bem magrinho, tinha braços grandes, a água das piscinas não ia me fazer mal, e, o melhor: não precisaria dos óculos. Fiquei ansioso e falei comigo mesmo:
- Por que não pensei nisso antes?!
No mesmo dia, fui ao clube inscrever-me nas aulas de natação. Teria, porém, que passar por um exame médico. 
Para minha surpresa, depois de um curto exame o médico disse que eu não poderia usufruir das piscinas do clube e fez uma anotação com caneta vermelha no meu cartão de sócio. Fiquei tão abalado...
Quando dei por mim, já estava na minha casa, chorando. Meu pai estava sentado em um sofá na sala, e, ao me ver entrar tão desesperado e chorando, disse:
- Miguel, o que aconteceu?
- Pai, o médico do clube me reprovou no exame, então, não vou poder participar do campeonato de natação!
Em um impulso instantâneo, meu pai me agarrou pelo braço, descemos as escadas e entramos no carro. Em poucos minutos estávamos no clube.
Nunca mais esqueci aquela cena: Meu pai e o médico frente a frente. Papai, aquele homem de um metro e oitenta, perguntando se ali havia algum homem que teria coragem de não deixar seu filho nadar naquele clube. 
Até hoje, não sei o que o médico escreveu no meu cartão, pois, além de não enxergar as letras eu não entendi os garranchos do médico. Mas, no outro dia, às 7h da manhã, eu estava dentro da piscina olímpica do clube em uma equipe de natação... 
Esta é uma lembrança de meu pai. 
 
Miguel José Naufel 
miguel-naufel@hotmail.com

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