segunda-feira, 26 de setembro de 2011

CYBER CRIME


Livro descreve alastramento do crime cibernético e revela perfil de hackers


Escrito como uma empolgante história de suspense, o novo livro do jornalista britânico Misha Glenny revela ao leitor o mundo obscuro do crime cibernético.
Glenny, filho de um acadêmico russo, é autor do bestseller McMafia, que descreve o alastramento do crime transnacional após a desintegração da União Soviética.
No novo trabalho, intitulado Dark Market: CyberThieves, cyberCops and You, Glenny, ex-repórter da BBC, faz um passeio pelo universo paralelo habitado por hackers, encontrando toda sorte de personagens bizarros no percurso.
Em entrevista à Radio 4 da BBC, Glenny explicou que o título se baseia no nome de um conhecido website, o darkmarket.com.
"Até ser fechado, no final de 2008, o darkmarket.com era o principal site em língua inglesa onde criminosos do mundo inteiro compravam milhares de cartões de crédito clonados, vários tipos de vírus e cursos sobre como cometer crimes cibernéticos", disse Glenny.
O livro descreve, entre outros episódios na história do cybercrime, a primeira Conferência Internacional Mundial de Carders (carder é o termo inglês para pessoa que comete fraudes com cartões de crédito), realizado em Odessa, na Ucrânia, em maio de 2002.
Sem Fronteiras
Cerca de 400 criminosos cibernéticos de todo o mundo se reuniram na cidade - apropriadamente escolhida por ser, nas palavras de Glenny, "o reino dos ladrões na antiga União Soviética" - para um evento exclusivo, somente para convidados.
"Eu fui atrás de alguns desses personagens", contou Glenny."Eles vêm do mundo inteiro, têm níveis sociais distintos e pertencem a etnias variadas, mas têm algumas características em comum".
"A grande maioria, 95%, é do sexo masculino. Eles têm pouca habilidade em se comunicar e aprendem a prática do hacking quando têm 13, 14 ou 15 anos, antes de desenvolverem conceitos morais. O mundo virtual oferece a eles uma maneira de mostrarem seu talento sem precisarem se relacionar com pessoas".
O livro descreve como os ladrões cibernéticos se integram às máfias locais, seja na Ucrânia, na América do Sul ou no Mediterrâneo, mas explica que seus crimes não estão limitados a regiões geográficas específicas.
Isso torna a máfia russa, hoje em dia, tão presente na Grã-Bretanha como na Rússia.
"Um crime é ordenado em Odessa, na Ucrânia, mas acontece em Idaho (Estados Unidos) e o dinheiro é embolsado em Dubai (Emirados Árabes) ou na Ucrânia", disse Glenny. "Ou seja, um crime que envolve metade do planeta acontece em um período de 10 minutos e a vítima só fica sabendo muito tempo depois. Ou, em alguns casos, nunca".
Pacto de Silêncio
Hoje, o crime na rede movimenta vastas quantias em todo o mundo. Entre suas grandes vítimas estão seguradoras e bancos - mas poucos falam sobre o assunto, disse Glenny.
"Os bancos estão preocupados. Não querem que se torne público que são regularmente atacados, porque se isso chega ao domínio público, a reputação dessas empresas é prejudicada".
O escritor disse, no entanto, que os ladrões cibernéticos estão agora investindo em um novo campo:
"Um dos campos onde o crime cibernético cresce mais é o da espionagem industrial, competição industrial. Mas não ficamos sabendo sobre o assunto porque as empresas estão muito assustadas e não querem falar sobre o assunto".
Guerra Cibernética
No esforço de desvendar os mistérios do crime cibernético, Misha Glenny conheceu e, admite, se encantou com alguns dos integrantes dessa comunidade particular de ladrões.
"Alguns são muito divertidos. Eu tenho simpatia em especial por um hacker que trabalhava para a inteligência militar soviética", disse. "Ele combina habilidade técnica com consciência política, algo muito raro nesse grupo".
"Tenho simpatia por eles. Muitos dos meninos mais novos que se envolvem com o crime cibernético têm dificuldade em se relacionar socialmente e isso é a única coisa que dá a eles a oportunidade de se afirmar, de sentir que têm algum valor no mundo".
Glenny reconhece, no entanto, que muitos estão sendo manipulados. "Infelizmente, eles são manipulados para se envolver no crime". E diz que os riscos associados ao cybercrime estão crescendo exponencialmente.
"Chegamos a um ponto em que governos perceberam que precisam fazer algo sobre segurança, porque tudo está interligado", explicou.
"Quando um país está sendo atacado, ele não sabe se o ataque é crime cibernético, espionagem industrial ou um outro Estado querendo atacar a infra estrutura nacional crítica – suprimento de energia ou de água - de um país".
Um bom exemplo disso ocorreu em 2007, quando um ataque cibernético causou grandes sustos e transtornos na Estônia.
Bancos, departamentos do governo e a mídia nacional tiveram seus sites inundados por spam, fazendo com que ficassem fora do ar por um longo tempo.
Os autores do ataque nunca foram encontrados, embora haja suspeitas de que ele tenha partido da Rússia.
"No outro extremo do crime cibernético está a guerra cibernética. No ano passado, foi criado um vírus chamado Stuxnet, que atacou as instalações nucleares do Irã".
"Ou seja, um Estado ou outro colocou no mundo um vírus que pode causar danos profundos à infraestrutura de um país e isso deu início a uma corrida de armamentos no mundo cibernético", disse Glenny.
“Hoje, existe um quinto domínio militar, paralelo à terra, água, ar e espaço. É o primeiro criado inteiramente pelo homem e tem um comando inteiramente cibernético".
O livro Dark Market: CyberThieves, cyberCops and You estará disponível em algumas livrarias brasileiras a partir de outrubro.

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