quarta-feira, 7 de setembro de 2011

CONTANDO A VIDA 50

Nosso cronista quarta-feirante assanha-se por um livro com frases picantes extraídas do cinema.
FRASES SOBRE SEXO NO CINEMA.

José Carlos Sebe Bom Meihy

Dia desses, distraindo-me de intenso trabalho, resolvi ir ao cinema. Sempre busco sessões diurnas, daquelas com poucas pessoas e com menor risco de celulares, conversas paralelas, barulhos. Opto por salas de shoppings por razão de comodidade: lanchonetes, lojas de conveniências e, sobretudo livrarias. Ah! o filme, de preferência, deve ser leve, do tipo bobagens românticas. Da vida, problemas, dramas basta a realidade...
Pois bem, chego invariavelmente cedo. Uma hora, pelo menos. Tempo bastante para acertar a escolha do lugar alternativo depois da compra do bilhete. Claro, meus passos levaram-me a uma livraria. Foi ótimo. Depois de giro breve pelos lançamentos, estacionei minha expectativa em frente à prateleira de livros sobre cinema. Sem direção definida, meus olhos cravaram um título cativante “Quanto mais quente melhor – as melhores frases de sexo no cinema”. A capa com insinuante foto de Marilyn Monroe era mais do que convite. Comprei.
O texto assinado por Mariza Gualano, publicado pela Editora Ponteio, contém mais de 380 frases recortadas de filmes que se valem da insinuação maliciosa de evocações sexuais. Uma delícia completa. Como seria de se esperar, autores como Woody Allen figuram com tiradas dignas do talento de quem sabe o que diz. Uma das mais divertidas indicações dele é a seguinte “a última vez que estive dentro de uma mulher foi quando visitei a estátua da Liberdade” extraída do filme “Crimes e Pecados”. Mas, esta menção é uma entre tantas outras memoráveis. Almodovar, por exemplo, é citado pela marota frase dita em “Vicky Cristina Barcelona quando a personagem diz com duvidosa singeleza “eu vou ao seu quarto, mas você terá que me seduzir”. Uma das mais picantes passagens é do filme nacional “O homem do pau-brasil” onde foi dito “O beijo! Desceu até lá embaixo”.
Não é só de pândega que o livro se faz. No filme “Uma mulher descasada”, dirigido por Paul Mazursky é mencionado algo quase louco “Meu relacionamento com Hal é totalmente honesto. Ele não diz que me ama, e eu não digo a ele que é fascinante. É puro sexo.” Há passagens quase chocantes pela racionalidade e frieza, e, uma das mais notáveis é dita em “Bob & Carol, Ted & Alice”, da mesma direção “Eu sei que você está a fim. Mas, querido, agora eu não estou. Quer fazer isso assim mesmo, sem nenhum sentimento da minha parte?” e a seguir, a patética resposta do interlocutor masculino “-Sim.” Do mestre de todos os grandes diretores da atualidade, entre os quais Tarantino e Gaultier Russ Meyer, um dizer é mais eloqüente “Venha pra cá, querido! Você não sabe que a comida de casa vai estar sempre esperando”? Lembremos que nos filmes de Meyer as mulheres dominam as cenas e os homens são sempre personagens secundários.
De Lowell Sherman, de antigo filme, de 1933, é colocada na boca de estonteante mulher que protagoniza “Uma loira para três” o seguinte: “Quando as mulheres vão pelo mau caminho, os homens vão logo atrás”. Esbarrando no grotesco, há frases que se tornaram memoráveis e que não podiam ter ficado fora da lista. Uma delas é de Edward Cline dita pela maliciosa companheira que em “My little Chickadee” faz a moça dizer ao namorado entusiasmado “Você tem uma arma no bolso ou só está feliz por me ver?” Lendo essas frases, fica clara a valorização das mulheres e até se vislumbra um feminismo avant la lettre como sugere Henry Hathaway em “Amores de uma diva” quando a atriz fala, perplexa com a beleza dos parceiros “Tantos homens... tão pouco tempo”.
É justo, no entanto, que se perceba algo de filosófico nisto tudo. Não apenas para entreter ou mostrar citações pitorescas, o livro traduz também certas lições, por via da reflexão do discurso sexualizado. Em “De volta ao Vale das Bonecas, de David Gurian, um rapaz apaixonado diz a uma prostituta algo que serve como moral do livro “A vida não é só a posição clássica”. Por lógico, pretendia-se indicar que a atividade sexual merece variações, mas o mesmo dizer serve também para indicar que a vida fora da cama também reclama formas variadas de exercitá-la.
Ah! esqueci de dizer. De tal forma fiquei entretido no livro que perdi a sessão de cinema. Ou melhor, desisti e voltei para a casa devorando o texto que merece o título “Quanto mais quente, melhor”. 

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