quarta-feira, 14 de setembro de 2011

CONTANDO A VIDA 51

O Professor Sebe escreve sobre um assunto que conheci muito bem na escola: bullying! 


BULLYING

José Carlos Sebe Bom Meihy

Meus caros, há temas e temas... O de agora, porém, merece atenção especial de pais, educadores e jovens vítimas. Bullying é nome novo para antiga prática de agressão comum entre jovens. Sim, os mais poderosos se investem sobre os mais fracos e os agridem tanto psicológica como fisicamente. E como causam sofrimento! É bom que o tema ganhe amplitude e chame atenção, pois uma de suas características é a dominação pelos perpetradores e o silêncio ou submissão das vítimas. E tenham certeza, o fenômeno é bem mais generalizado do que se imagina, está presente em vários lugares, mas principalmente nas escolas, condomínios e clubes.
A cultura ocidental tem insistido na fantasia danosa do mito da criança pura, entidade inocente e livre de maldade. Com este suposto, oculta-se do processo educacional o fato de sermos - todos indiscriminadamente - portadores de doses de fereza, e, sabe-se, educar é exatamente o aprendizado da vida em sociedade pela correção de procedimentos instintivos, naturais. Em se falando de criança o fato é fundamental para quebrar a visão equivocada, simplista, de que os pequenos são apenas seres angelicais incapazes de maldade. Não que não o sejam também, mas desde Melanie Klein, discípula de Freud, sabe-se que faz parte do processo de crescimento a luta do socialmente certo contra e errado e que, por meio da educação, se transformam crianças egoístas em cidadãos de valores saudáveis. O pacto social é o objetivo e ele exige respeito à diversidade e convívio tolerante. Pois bem, o que a sociedade moderna tem visto é uma espécie de especialização da violência doméstica, que se expressa em reprodução dos atos agressivos dos filhos. Da infância à adolescência isso tem se desdobrado. Na mesma medida, de casa para a vida coletiva.
Crianças que crescem reprimidas, ao encontrar colegas frágeis – gordinhos, baixinhos, de outras etnias, de religiões minoritárias, mais pobres – exercem poder dominando com violência ou arrogância os mais fragilizados. E como estes se submetem aos atos que quase sempre implicam em humilhação! Os bullies (perpetradores) investem de diversas formas sobre os que não conseguem se impor e esses, em consequência, tornam-se inferiorizados, submetidos, expostos ao domínio. Quase sempre entre agredidos e agressores preside um pacto de silêncio e a continuidade da submissão implica progresso nos acometimentos. Muitas vezes é difícil identificar o bullyng, que pode acontecer na intimidade ou isolamento. Exatamente por admitir segredo ou vergonha, vítimas amedrontadas se calam e se frustram. Frente à consciência progressiva do fenômeno, tem acontecido o aprendizado de cuidadores que se exercitam em identificar casos. Conversas com alunos, por exemplo, facilitam a exposição de situações medrosas.
No Brasil, entidades como a ABRAPIA (Associação Multiprofissional de Proteção à Infância e Adolescência) concluiu que 40,5% dentre 5785 jovens de 5ª a 8ª séries admitiem estar envolvidos em atos agressivos nas escolas. Ana Beatriz Barboza, psicóloga especialista em assuntos afins ao comportamento de portadores de agressividade é autora do livro Bullying: mentes perigosas nas escolas/Fontanar, indicado aos adultos. Em texto claro, a autora identifica entre as mais importantes manifestações do bullying os seguintes atos: o insulto que rebaixa a vítima à situação de inutilidade; repetidos ataques físicos que também são feitos em objetos de propriedade da vítima; insinuações verbais com o fito de humilhar; ameaças a familiares; chantagem. Agregam-se a isso as repercussões dos efeitos nas vítimas e o risco de ridículo crescente. A depressão é sempre companheira dos agredidos. Uma das alternativas buscadas por educadores, visa provocar reflexões coletivas sobre o tema e isso deve começar na infância. A fim de motivar debates, cita-se como exemplo pequena lista de livros infantis que podem ajudar: Pinote, o fracote e Janjão, o fortão, de Fernanda L. de Almeida e Alcy Linhares /Editora Ática; O pequeno rei e o parque real - José Roberto Torero e Vinicius Vogel /Editora Objetiva; Zé Diferente, Lucia Pimentel Góes /Editora Larousse do Brasil e Nós, Eva Furnari /Editora Globo. Para país e educadores, recomendo com entusiasmo o texto publicado pela Contexto, 12 faces do preconceito onde autores renomados expressam opiniões que espelham efeitos danosos de práticas de exclusão. E como cabe pensar que a reação começa em nós, vamos em frente: mãos à obra.

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