sábado, 27 de março de 2010

UMA COISA QUE PRA MUITOS ERA BANAL, PRA MIM SE TORNOU UM SONHO

Pelo terceiro dia consecutivo, uma história enviada por leitores. E agora, todas estão vindo com fotos! O pessoal tá mesmo querendo se expor ao mundo e contar suas experiências. Podem continuar mandando textos, afinal, o espaço é NOSSO!



Meu nome é Thamirys, tenho 20 anos e sou albina. Moro no litoral de São Paulo, região com muitas praias, o que se tornou sacrificante para mim.

Sou a única albina na minha família; isso foi terrível em minha infância! Minha família é enorme, tenho 4 primos na mesma faixa etária que a minha, mais uma irmã que é apenas dois anos mais velha. Fui obrigada a entender o quê, e como eu era porque meus pais sempre deram muita força para que eu passasse despercebida pelos vários problemas que teria que enfrentar.





Quando pequena, ia muito à praia, e meus pais ficavam atrás de mim o tempo todo... Eu ficava só de camiseta, sob o guarda-sol, sempre besuntada de protetor solar. Eu achava aquilo terrível, pois como disse, minha família é enorme, então, todos meus primos e minha irmã brincavam e corriam em direção à água, enquanto eu era obrigada a entender que tinha que ficar ali, e que aquilo era pro meu próprio bem.

O tempo foi passando e aquela vontade de ficar com as outras crianças foi diminuindo... Também perdi o gosto pela praia. Meus pais - minha vida - sempre me ensinaram a ser independente apesar das minhas dificuldades. Principalmente meu pai, que me ensinou a enfrentar meus problemas de frente e não abaixar a cabeça pra ninguém!





Lógico que, como todos os albinos, também ganhei muitos apelidos (fantasma, gasparzinho, os de sempre...) mas, nunca liguei; fingia que não era comigo, apesar de ficar chateada...

Minha mãe, nossa!... Quantas confusões ela não arrumou por minha causa?! Às vezes, saíamos e ela escutava as piadas que faziam de mim, daí, ela brigava com garotinhos de 5, 6 anos de idade... Rsrsrsrsrs Eu achava a situação engraçada, sempre que acontecia isso eu não sabia se dava risada ou enfiava a cabeça em um buraco, de vergonha.





Ate meus 4 anos eu era uma boneca,mas, dos 4 em diante me tornei um monstrinho, fase que todos zombavam de mim. Passei por isso de cabeça erguida, porém... Com 16 anos, eu já era bastante conhecida aqui na cidade onde moro (Bertioga) e fui conquistando meu espaço, meu lugar.

Arrumei meu primeiro emprego aos 13 anos de idade. Como disse, me tornei independente e amadureci muito rápido devido a minha circunstância. Meus pais me explicaram o porquê de eu ser assim, e, com uns 8 anos já explicava aos mais leigos o que era o albinismo. Já trabalhei em vários lugares: em mercados, banca de jornal, e, claro, no Mcdonalds! Assim como na escola, enfrentei muitas dificuldades, mas, graças a Deus, sempre encontrei pessoas maravilhosas que me ajudavam e entendiam o fato da minha visão ser muito baixa.






Passei pela adolescência sem nenhum arranhão, conclui o ensino médio, completei a maioridade e daí começou um dilema em minha vida! Minha irmã ganhou sua carteira de habilitação quando completou 18 anos... Eu sabia que comigo isso não seria possível, mas meu pai, teimoso, insistiu para que eu tentasse. Não tentei de imediato... Como tenho que ir ao oftalmologista todos os anos, aguardei minha consulta. Eu já sabia qual seria a resposta do Doutor, mas havia em mim uma esperança de que talvez um dia eu pudesse realizar meu sonho!

Quando chegou a época, fui à tal consulta. Como eu esperava, a resposta do médico foi negativa... Sabe, apesar de eu ter consciência de que aquilo nunca seria possível, escutar da boca do médico foi um baque! Chorei muito; uma coisa que pra muitos era banal, pra mim se tornou um sonho...





Superei isso muito rápido, trocando a habilitação por um computador novo, cheio de tranqueiras! Mais, ainda hoje, quando o assunto é carro, habilitação, me sinto meio frustrada, pois terei que me acostumar a andar de ônibus... Rsrsrrsss...

Sei que meus desafios ainda não acabaram. Estou cursando fisioterapia em uma cidade próxima a minha (Santos) e encontrarei novos obstáculos. Porém, estarei aqui de pé, olhando pra frente, me superando e me tornando melhor a cada dia que passa.

Thamirys Rodrigues dos Santos Marques


(O pai da Thamirys certamente concordará com a Beth Carvalho!)