segunda-feira, 1 de março de 2010

O ASSALTANTE ARGENTINO

Assim como o jornal influenciou a poesia e o romance modernos, o cine documental influenciou o de ficção. Câmeras balouçantes seguindo protagonistas meio a esmo e em tempo real, são apenas 3 dos elementos formais comuns aos 2 gêneros.

Sábado á noite, vi El Asaltante (2007), película de estréia do argentino Pablo Fendrik, que segue esse estilo documental-Dogma de fazer cine. Sem trilha sonora e repleto de longos planos-sequencia, El Asaltante mostra uma manhã atípica (será?) na vida dum senhor de meia-idade que caminha/corre por Buenos Aires praticando assaltos e depositando a pilhagem em caixas-eletrônicos.

A câmera assume o ponto de vista do protagonista durante todos os 70 minutos de filme, localizada literalmente em seu pescoço. Desse modo, vemos suas manchas de pele, sua mão queimada por água fervente (ugh!), seu suor, e, o mais importante, suas emoções. Além disso, subimos e descemos escadas, atravessamos ruas, corremos, entramos e saímos de edifícios e vemos as demais personagens pela ótica do assaltante elegantemente trajado.

Embora desprovido de roteiro típico de filmes convencionais, onde uma ação conduz à outra, gerando suspense, El Asaltante tem alguns momentos bastante tensos, proporcionados pelos movimentos de câmera e também pelo aspecto inesperado que algumas situações tomam; quando percebemos que o plano do assalto se desviara do planejado e a personagem tem que improvisar.

O diretor/roteirista não se preocupou em fornecer ao público as motivações da personagem. Jamais descobrimos porque ele decidiu passar uma manhã roubando escolas. Ao final, nos damos conta de que o homem é um cara comum, que provavelmente quisera uma manhã mais adrenalinada.Também percebemos de que se trata dum senhor “de bom coração”: a garçonete que derruba água fervendo em sua mão, o segue pelas ruas; inicialmente, ele reage furiosamente, mas depois a ajuda quando a menina passa mal.

Embora eu me encontre bastante bem preparado pra aceitar filmes “sem história” - como diriam alguns amigos – ou motivação, creio que El Asaltante exagera um bocadinho na dose... A tal garçonete chegou inclusive a me irritar! Por que ela derrubou a água deliberadamente na mão do coroa? A explicação do dono do bar foi ridícula... E o cliente não faz escândalo nenhum?? Por que a moça persegue o cliente na rua? Enfim, se a intenção de Fendrik era mostrar a gratuidade dos fatos a vida, podia ter escolhido forma mais eficaz e menos chata, porque a parte da menina da lanchonete me tirou parte da graça de ver o filme. Tanto, que não é uma película que pretenda ver novamente precisamente por causa dessa parte da trama.

Uma pena, porque o trabalho do ator Arturo Goetz está quase impecável! Um prazer absoluto vê-lo nervoso, ansioso, bravo, sorrindo, enfim, expressando a gama de emoções novas conflitantes que o homem comum tornado larápio engravatado, experiencia naquela manhã. Novamente, a cena da lanchonete me irritou! Se me derrubassem um monte de água fervente na mão eu daria um berro e o quarteirão inteiro aprenderia no mínimo, uns 3 palavrões novos!

Apesar de não ter me convencido totalmente, El Asaltante despertou a curiosidade pela carreira do diretor estreante. O menino tem potencial e talento. Preciso ver La Sangre Brota, filme dele de 2008...

Quanto a Arturo Goetz, conhecia o trabalho de outros filmes, mas jamais o vira num papel que lhe permitisse tanto.

(Vejam o trailer.)


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