terça-feira, 15 de outubro de 2019

TELINHA QUENTE 379


Roberto Rillo Bíscaro

Quanto detetive problemático há nesse mundão ficcional de mon Dieus! E quantos têm como parceiros informais, civis, que no mundo real seriam usados pelos advogados do criminoso como formas de anular o processo, sob alegação de que evidências foram contaminadas ou confissões obtidas fora dos procedimentos-padrão. Mas, nada disso importa perante nossa fome por mistérios e diversão, desde que o produto seja bem-acabado.
É o caso dos 3 episódios de Lanester, do canal France 2, presentes no catálogo oda Amazon Prime. Tramas de 90 minutos cada, centradas no detetive dos romances da escritora Françoise Guérin.
Como são inúmeros os detetives, há que lhes prover com alguma característica diferenciadora. Eric Lanester é comandante maduro, que fica cego em meio a uma investigação sobre serial killer que arranca os olhos de suas vítimas. Seu médico diz tratar-se de cegueira causada por reprimidos traumas infantis vindos à superfície, quando o policial viu animais de pelúcia sobre a cama duma das assassinadas. Lanester pega um táxi conduzido por Gabrielle, jovem esperta, urbana e atrevidinha, contraponto perfeito pro reservado e algo sombrio Lanester. A partir de então, iniciam parceria e amizade sui generis. No episódio seguinte, a cegueira ameaça voltar cada vez que o caso reemerge uma das muitas neuras infantis. No episódio três, o subtexto de saúde mental vem completamente à tona e a história se passa no hospital psiquiátrico, onde o irmão de Lanester vive desde a adolescência.
Lanester, a série, é pura baboseira psicológica de botequim, ou melhor, de bistrô ou café, porque se passa em Paris. Os assassinos estão tão obviamente dados, que chega a ser meio engraçado. Não só não há tantos personagens fora do grupo de policiais (todos meio anônimos), como a necessidade de freudianizar tudo os entrega pela lógica da narrativa, que qualquer fã mais experiente pega em 3 minutos.
Lanester às vezes parece In Treatment encontra .... (complete com seu detetive problemático predileto) e tem aquelas delícias tipo, a namorada da taxista é hacker nas horas vagas e entra no sistema do hospital.
Talvez pareça que esteja preparando conclusão negativa, né? SQN. Amei Lanester! É eficiente, tem gente bonita, o clima é mais sombrio do que o do brilho dos dentes branqueados norte-americanos e o mais importante: por mais inverossímil, dá pra gostar muito de Eric Lanester e sua parceira informal Gabrielle. Richard Berry e Emma de Caunes estão ótimos. Talvez o roteirista tenha sacado (inconscientemente, já que estamos em território Freud bubblegum, tipo anos 40, 50) que o material não era dos mais geniais e caprichou no par central.
O que quer que tenha sido, funciona que é uma belezura.

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