terça-feira, 20 de setembro de 2016

TELINHA QUENTE 230

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Roberto Rillo Bíscaro

Há anos lia o nome Devious Maids em sites sobre séries e meio que me interessava pelo devious, algo como safado, tortuoso. Por sinopses, sabia tratar-se duma mistura de soap com telenovela mexicana, porque a série da Lifetime baseou-se na novela Ellas Son...La Alegria Del Hogar, da Televisa. O título da adaptação ianque me animava mais, porque supunha sordidez. Demorei, mas agora que a série foi cancelada ao final da quarta temporada, assisti aos 49 episódios e me diverti sobremaneira.
Downton Abbey encontra Melrose Place encontra Maria Del Barrio encontra Hot In Cleveland. Isso é Devious Maids. 4 empregadas latinas trabalhando em mansões em Beverly Hills são o centro desse delicioso show abarrotado de frases de efeito sensacionais. O relacionamento delas com os patrões, os inter-relacionamentos desses últimos e em toda temporada um mistério compõem o miolo da meada dramática. Como em toda boa soap, as personagens principais intercambiam de posição às vezes, mas os culpados pelos mistérios sempre são personagens novatos, porque essa é realmente sua função: poupar o núcleo duro.
Como o tom é de ferveção cômica/farsesca/paródica, não há verdadeiramente um vilão no conjunto. Mesmo quem sempre torce pra mocinhos/as, não odiará Adrian e Evelyn Powell, porque são muito engraçados. A canalhice desses ricaços é distinta da de JR Ewing ou Alexis Morel Carrington Colby Dexter. Os das soaps clássicas são malvados sérios, os Powell são tão caricatos que rimos apenas. Como amo quem não presta, apesar de Devious Maids ser das mucamas, meus favoritos foram Adrian e Evelyn. Adrian 4ever! A picardia também nos deixa aceitar que uma mansão com 9 quartos tenha apenas uma faxineira.
Sonho que dificilmente realizarei é ver na íntegra uma das soaps clássicas exibidas no período vespertino nos EUA. Mesmo em tempos de acesso digital, ainda considero distante a possibilidade de ver os 40 anos de All My Children, por exemplo. As daytime soaps – hoje combalidas e condenadas à extinção nesse formato geracional – são instituições do folclore televisivo estadunidense e geraram ícones como Susan Lucci, a Erica Kane, de All My Children, entre 1970 e 2011. Imagine passar praticamente uma vida profissional inteira num único show; envelhecer vivendo uma só personagem (Lucci é sempre ela mesma, anyway). Se os gurus do capitalismo dizem que a era dos empregos de décadas já era, no mundo das soaps há de ser o mesmo.
O que importa aqui é que mesmo inabilitado pra ver All My Children, vi Lucci nas 4 temporadas de Devious Maids. Que sonho! Nêmesis de Victoria Chase, em Hot In Cleveland, Lucci interpreta Genevieve (pronunciado Janviév) Delatour. Com esse nome, preciso dizer o quê sobre a ricaça? Luxo só. Confirmando o pedigree soap, Grant Show, o Jake Hanson, de Melrose Place e a linhagem sitcom, Ana Ortiz, a irmã de Ugly Betty.
Guilty pleasure é o termo que pseudoculturetes encontraram pra justificar alguma bobagem muito ostensiva de que gostem. Não tenho tais veleidades, não vi Devious Maids com culpa; é puro entretenimento é besteirol e é uma delícia.  

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