sexta-feira, 23 de novembro de 2012

PAPIRO VIRTUAL 42

Prometeu foi o titã que compensou a fragilidade humana presenteando-nos com o fogo, roubado aos deuses. Ao nos proporcionar o elemento, deu-nos a capacidade de desenvolver tecnologia. Se não tivesse sido condenado por Zeus aos grilhões caucasianos e a ter o fígado devorado por ave de rapina diariamente, poderia ser o deus do atual empreendedorismo.
Através de Hesíodo e Ésquilo, os Românticos elegeram Prometeu como herói, pela sua pró-atividade, obstinação e individualismo que repercute no coletivo. Basta como exemplo o romance Frankenstein, de Mary Shelley, cujo título alternativo é The Modern Prometheus.
Seguindo a fase de leituras gregas, reli Prometeu Acorrentado, cuja autoria esquiliana vem sendo contestada desde o século XIX. Traços estilísticos fazem supor que a tragédia tenha sido escrita depois da morte do ilustre tragediógrafo. Há quem diga que o Ésquilo em questão possa ser seu neto.
Embora quase nada aconteça em cena – uma vez que apenas temos pessoas visitando o acorrentado benfeitor da humanidade – uma grande diferença pode ser notada em comparação com a maioria das obras sobreviventes de Ésquilo: o papel minimizado do coro. O oposto do que vemos n’Os Persas e n’AsSuplicantes.
Ésquilo criou um Prometeu injustiçado por Zeus, a quem ajudara na luta contra os titãs, mas que conhece o segredo de quando o próprio senhor do trovão será destronado por um filho. Paciente, Prometeu sabe que se revelar o segredo perderá seu único trunfo contra o tirano Zeus. Além do mais, nosso herói sabe quem o libertará (Hércules), por isso, resistirá estoicamente à arbitrariedade do chefe dos deuses.
Prometeu Acorrentado adverte sobre a transitoriedade dos governos – ditatoriais ou não. Infelizmente, a peça ainda consegue reverberar o horror da tortura, 25 séculos após sua escrita. Até quando?

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