segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

ALUNO COM ALBINISMO NA CLASSE REGULAR - I

Hoje iniciarei a postagem seriada do artigo O aluno com Albinismo na Classe Regular, da norte-americana Julia Robertson Ashley. Não tenho dúvidas de que sua leitura será valiosa para educadores e interessados em inclusão e albinismo. A extensão do texto explica sua postagem em série.

O aluno com albinismo na classe regular
Julia Robertson Ashley


RESUMO
Este artigo, retirado do folheto “O aluno com albinismo na classe regular”, é destinado a responder às questões mais recorrentes de professores e educadores sobre as necessidades específicas de alunos com albinismo, mas é também muito útil para pais, médicos, enfermeiros e outros profissionais que geralmente se relacionam com eles. O trabalho oferece informação, conselho e uma análise superficial numa linguagem simples. Começando com a definição e a caracterização de albinismo, o autor discute alguns problemas sociais e emocionais enfrentados por pessoas albinas, sugerindo soluções.


Introdução
Uma criança com albinismo está inscrita em sua turma, e você sabe que ela tem séria dificuldade visual, razão por que se pergunta até onde suas reais necessidades diferem das demais. Este trabalho, professor, foi preparado como resposta a possíveis dúvidas suas em relação a este aluno, devendo ser adaptado às circunstâncias e ao seu estilo de lecionar.
Duas leis Americanas dos anos 90, uma sobre os direitos das pessoas deficientes e outra sobre sua educação, deram aos professores, a um só tempo, a oportunidade e a responsabilidade de prover uma educação apropriada para alunos com deficiências visuais, num meio o menos restritivo possível, embora a maioria dos que lecionam em escolas regulares tenha pouca ou nenhuma experiência neste campo. Se lhe for dito que terá um aluno legalmente cego (muitas crianças albinas o são), isto poderá, de início, ser intimidador. As crianças com albinismo possuem visão remanescente útil para leitura e aprendizado, podendo precisar, apenas, de meios alternativos que as auxiliam em, efetivamente, usar a visão. Este trabalho foi pensado exatamente para ajudá-lo a entender que as crianças albinas apresentam grande variedade de visão funcional, necessitando de orientação e oportunidade para adaptarem-se às classes regulares.
A fim de ajudá-lo a suprir as necessidades especiais desta criança, a escola deve ter o suporte de um professor especializado, conhecedor das particularidades educacionais de cada tipo de deficiência visual que, por isso, saberá que alternativas sugerir-lhe nos procedimentos de sala de aula. Prepare uma lista das dúvidas que você tenha tido durante o ano e converse com este especialista, que, segundo as necessidades da escola, poderá ser um professor de sala de recursos, um itinerante ou um consultor. Vocês dois poderão trabalhar juntos, criando um ambiente estimulante e apropriado às especificidades de cada aluno.

O que é albinismo?
Albinismo é uma hipopigmentação congênita (falta de pigmentação), que pode ocorrer em plantas, animais e seres humanos, afetando, nestes, os olhos, sob as formas de nistagmo e redução da acuidade visual, causando deficiência de moderada a séria. Muitas pessoas têm visto indivíduos com pele e cabelos extremamente claros, e pode ter-lhes sido dito que tais pessoas eram “albinas”. Mas, em geral, poucos sabem que todos os albinos apresentam, também, sérias dificuldades visuais. Esta condição é inerente aos genes recessivos. Isto significa que ambos os pais devem carregar o mesmo gene raro de um tipo particular de albinismo. É possível que muitas crianças de uma família tenham albinismo, mas existem só 25% de chances de que cada gravidez resulte numa criança com esta condição (Haefemeyer, 1986). Esta condição é encontrada em, aproximadamente, uma para cada 17.000 pessoas nos Estados Unidos. Mesmo com as limitações da visão, os indivíduos com albinismo podem viver normalmente, se tiverem apoio e recursos apropriados. Quando adultos, possuem famílias, empregos e participam das atividades comunitárias.
As características comuns de indivíduos albinos incluem nistagmo, estrabismo, fotofobia, perda da percepção de profundidade, e pele extremamente sensível ao sol. Nistagmo é o movimento rápido e involuntário dos olhos na horizontal, que causa uma redução de acuidade visual. Estrabismo é a falta de coordenação entre os dois olhos (eles não parecem “retos”). Existe, também uma falta de percepção de profundidade. O aluno encontrará muita dificuldade em julgar distâncias e conceitos espaciais, mas sempre pode compensar estas dificuldades. Fotofobia é uma extrema sensibilidade à luz, que pode causar redução da acuidade visual.

A criança com albinismo em sala de aula
Trate a criança albina como você trataria outra qualquer. Não se sinta embaraçado, usando termos como “olhe” e “veja” – estas são palavras normais do vocabulário da criança também. Um aluno, mesmo classificado como legalmente cego ou deficiente visual, pode possuir, ainda, uma boa reserva de visão útil para propósitos educacionais (Brailey & Hall, 1990). Não deixe que a terminologia atrapalhe. A criança sabe se é amada e aceita, e não vai ofender-se com um professor, só por este lhe fazer perguntas ou lhe pedir que olhe e descreva o que vê. Isto pode, até, ser o modo mais prático de que você disponha para avaliar seu campo e/ou sua acuidade visuais. Uma fonte excelente para acessar rapidamente acuidades visuais para perto e para longe é o teste de Quadros Visuais Efon (1980), um conjunto de cartões que podem ser usados por crianças, a partir dos três anos e com pessoas de qualquer idade, que não falam inglês e podem ser administrados pelo professor especializado dos alunos com dificuldades visuais. É um excelente teste de quadros usando cartões e pôsteres de parede. A distância do teste é de 10 pés, mas as medidas de acuidade são feitas em padrão Snellen (20/20 etc.) Uma vantagem principal deste teste é que ele é capaz de medir acuidade até a faixa de 20/100 e 20/200.
Há alguns anos, os alunos com problemas visuais, que não eram funcionalmente cegos, eram conhecidos como de “visão parcial”. A terminologia atualmente aceita pela área educacional é “baixa visão”, o que significa visão insuficiente para realizar uma dada tarefa. As crianças com baixa visão, ainda que bastante limitada, podem, não raro, utilizá-la para fins educacionais, ao contrário das funcionalmente cegas (Barraga & Erin, 1991), que se valem dos outros sentidos para a leitura e o aprendizado acadêmico.
Apresente-as à turma do mesmo modo como apresentaria qualquer criança recém-chegada. Se outras crianças ou professores quiserem fazer perguntas, encoraje o aluno albino a responder. Algumas pessoas são muito abertas ao discutir albinismo, enquanto outras podem sentir-se menos à vontade para falar de suas condições aos colegas. O professor pode, ainda, necessitar informar-se com o orientador da escola acerca de possíveis meios alternativos.
O professor pode ter de lidar com os elementos implicância e apelidos. As crianças albinas podem ter aparências que levem outras a caçoarem delas ou a delas dizerem coisas indelicadas. Quase sempre, as caçoadas resultam do não-entendimento das diferenças e das dificuldades dos albinos por parte das outras crianças, o que tende a desaparecer com o esclarecimento, de forma que as crianças deixam de ser ofensivas e podem tornar-se úteis aos colegas albinos. Infelizmente, as crianças negras albinas podem estar sujeitas a maior implicância do que as caucasianas, devido a extremas diferenças na pigmentação da pele (Waugh, 1988).
O professor, normalmente, irá ajudar às crianças e a seus companheiros no relacionamento com as diferenças, e o albinismo é só um aspecto de uma diferença. O objetivo é desenvolver nas crianças uma atitude positiva e de aceitação quanto às diferenças dos outros. As crianças com albinismo são, como quaisquer outras com dificuldades, dependentes de ajuda e podem ajudar no desenvolvimento da auto-estima de outras crianças. Deve-se usar de tato, claro. Algumas crianças preferem dizer ao professor que algo está ajudando, a fim de evitar magoá-lo, quando, de fato, a criança só não sabe como explicar-lhe que a tentativa por ele feita não funcionou.
A criança pode, também, não compreender como seus olhos realmente parecem aos outros. Algumas crianças têm ouvido que seus olhos se movem para trás e para frente, e podem imaginar que seja mais sério do que parece aos outros. A Dra. Anne L. Corn, professora da Universidade do Texas, em Austin, sugere que haja um instrumento ao alcance da criança para que ela veja os efeitos do nistagmo em seus olhos. A doutora relatou que, ao fazer isto com um aluno, este lhe disse nunca ter pensado que seus olhos “parecessem tão grandes”.
Inclua estes alunos em todas as áreas do currículo escolar de que todos os demais alunos deveriam participar: arte, música, educação física (EF), biblioteca e outras atividades especiais são apropriadas para a criança com albinismo. O professor especialista pode sugerir modificações que sejam necessárias nestas áreas (por exemplo, provavelmente, seria sugerido que em atividades externas durante EF, o aluno usasse um boné, óculos escuros e protetor solar. Jogos diferentes com bolas maiores e mais lentas podem ser apropriados).

(O nome da autora me remeteu à sublimidade etérea de Julia, do Eurythmics...)

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