segunda-feira, 15 de abril de 2019

CAIXA DE MÚSICA 361


Roberto Rillo Bíscaro

Não foi por acaso que Bárbara Eugênia escolheu lançar seu quarto álbum precisamente no Dia Internacional da Mulher. Empoderada, a carioca coproduziu-o e batizou-o de Tuda e cercou-se de gente daqui e de lá fora, para acompanhá-la na desenvolta dezena de faixas, que perpassam e aglutinam estilos e épocas.

A curta abertura, cantada com o Bloco Pagu, parece ponto de candomblé ou símile e dá impressão de que se trata de álbum “raiz”, ou como se queira chamar a música de cariz mais tradicional. Em Saudação, Bárbara agradece aos seres da mata e do mar e tudo o que vem dos quatro elementos: água, ar, fogo e terra. Telúrico e acústico, cheio de chocalhos e tambores afro.

Mas, esse é só o início de um álbum eminentemente pop, que, como tal, canibaliza o que pode e cospe de forma acessível e grudenta. Logo após Saudação, vem Perdi, cuja introdução de piano logo cede lugar à marcada pancada da bateria eletrônica e teclados bem estilo anos 80, década que informa a faixa mais grudenta de Tuda. Bagunça convida para a dança e tem até solo do instrumento-símbolo dos 80’s: o saxofone. Irremediável e imediatamente viciante, com letra que fala até de disco da Adele e tem a participação de Zeca Baleiro.

Tuda não se restringe a revival macaqueado dos anos 80. Perfeitamente Imperfeita é ijexá pop, com backing de mocinhos fazendo papapa. Sol de Verano tem clima de pop 70’s, porque é reinterpretação de uma canção de 1983, da anglo-hispânica Jeanette, cantante das clássicas Soy Rebelde e Porque Te Vas. Os efeitos, alguns hoje datados e “bregas”, são rasgados por mal-comportada guitarra roquenta. O clima de irmandade hispânica segue com Por La Luz Y Por Tierra, folk argentino, com o grupo Onda Vaga. Também dá vontade de bailar, mas num clima mais chacarero, flaco! Outra que dá vontade de baixar até o chão é Confusão, espécie de synth-carimbó, presente para o mundo da cena tecnobrega do norte. Eugênia dueta com um dos expoentes do subgênero, Felipe Cordeiro.

Querência psicodelilza um bocadinho, meio que misturando Caribe com Oriente Médio/norte africano e dance-rock. Inventiva e mutante, mas, ainda acessível. Essa faixa tem a companhia de Iara Rennó, que, ano passado, lançou delicioso álbum infantil chamado Iaiá e os Erês.

O aspecto de maleabilidade plástica de canções como Querência, faz de Tuda, pop bem pouco óbvio. Esse aspecto camaleônico intrafaixa também se destaca em Apaixonada Feito Gente Não, que vai de solo repetitivo à erudito contemporâneo ao baticum eletroacústico pós-tudo do fim da faixa.

Com produção que jamais exagera – e isso seria fácil num álbum com essa proposta de mistureba pop – Tuda é tudibom.

Nenhum comentário:

Postar um comentário