terça-feira, 7 de maio de 2013

TELINHA QUENTE 77


Quando criança, meus pais estabeleciam horário de dormir pra que eu estivesse disposto pras aulas de manhã. Acho que a partir da quarta/quinta série, eu podia ficar em pé até depois da novela das 8. Por isso, pude ver sucessos como O Astro, Pai Herói e Dancin’ Days. Programação das 22:00 nem pensar. Pesada demais pra minha idade, diziam.
Por isso, não vi Ciranda Cirandinha, série exibida em 1978, quando a Globo engatinhava no formato. Vi os DVDs com os 7 episódios e acredito que nem que pudesse teria me interessado na época, porque os temas eram muito adultos prum guri de 11 anos.
Parece que a fraca audiência determinou a exclusão do programa. Não esqueçamos que a emissora atingia níveis de ibope estratosféricos, quando TV a cabo e internet sequer eram sonhadas por aqui.
Determinada a tratar de temas relevantes pra juventude, os produtores reuniram a estrela Lucélia Santos, o promissor Fábio Júnior, a cinematográfica Denise Bandeira e o estreante Jorge Fernando pra interpretarem jovens que saem de casa e dividem um apê no Rio de Janeiro, meio na ressaca da onda das comunidades hippies do paz e amor e da macrobiótica, sacou bicho?
Quantos percalços Ciranda Cirandinha não enfrentou, ponderei, terminado o derradeiro episódio do programa que tem muito valor histórico pra nossa TV.
A censura era rigorosa: num dos episódios percebe-se que a doideira da personagem de Eduardo Tornaghi encaixava-se mais com drogas do que com o álcool mostrado (discretamente), mas a ditadura não deixava explicitar.
Os roteiros nem sempre primavam pela perícia, porque Ciranda Cirandinha serviu de ponto de partida pra gente como Euclydes Marinho. Falta ligação a algumas cenas, outras aparecem numa ordem meio esquisita, diálogos podem soar palavrosos ou demasiadamente artificiais (típico de jovens querendo passar “mensagens”). Uma festa de bacana é especialmente constrangedora.

No fim dos anos 70, como nos EUA - mas mais acentuadamente, claro -, não havia tanta grana nas produções televisivas e as atuações podiam ser menos profissionais do que as de hoje.
Esses senões não descreditam Ciranda Cirandinha, porém. Violência urbana, pais solteiros, famílias estendidas, amor intergeracional, sustentabilidade e educação são discutidos/aludidos no seriado que propunha TV pra pensar. Como não aprovar isso?
Pra quem cresceu vendo TV nos 70’s e 80’s é tudo de bom ver os rostinhos jovens de Kadu Moliterno, Lidia Brondi, Maria Zilda ou os já coroas Raul Cortez, Milton Moraes, Mauro Mendonça (na época, coma minha idade de hoje!) e tantos outros, alguns ausentes deste planeta.
Há momentos que a gente pensa que vivia em outro planeta, há 35 anos. Precioso ver uma cena em que uma adulta dialoga com um menor, fumando e segurando o maço pra fazer merchandising. Hoje, cena assim provavelmente geraria mais protestos do que uma em que o menor levasse um balaço na cabeça.
E finalmente pude ver/ouvir a canção Pai, de Fábio Jr, executada no contexto do episódio do qual fez parte e não apenas citada no Vídeo Show. Quem viveu a época de Pai Herói entenderá o que digo: Fábio Júnior virou viral.
Será que Malu Mulher foi lançada em DVD? Mais do que na hora d’eu penetrar na produção adulta da TV setentista brasuca.

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