terça-feira, 11 de outubro de 2011

TELINHA QUENTE 26

Por que Não Gosto de Amar Lark Rise to Candleford

Entre 1939-43, Flora Thompson publicou uma trilogia, que, em 1945, seria reunida num livro só, chamado Lark Rise to Candleford. As obras semi-autobiográficas descrevem a vida e os costumes na Inglaterra rural e de cidade pequena nos fins do século XIX. Críticos atribuem o sucesso da série parcialmente como válvula de escape pro caos e sofrimento advindos da Segunda Guerra Mundial. Era como se a retomada de uma Inglaterra extinta funcionasse como anestésico pra hecatombe do maquinário causador de morte e destruição.  
Entre janeiro de 2008 e fevereiro deste ano, a BBC levou ao ar uma produção baseada nos relatos da narradora adolescente Laura Timmings, que sai da aldeia de Lark Rise e vai pra cidade de Candleford, trabalhar na agência dos correios, administrada por Dorcas Lane. Sucesso de público, em meio a outra crise geral do capitalismo, que levou a Inglaterra à recessão. Novamente, Flora Thompson proporcionou válvula de escape pruma velha Inglaterra, idealizadamente mais simples, mas onde as máquinas estavam chegando. Lark Rise to Candleford – a série – descreve o ocaso duma época rural e o nascimento duma sociedade urbana, embora esta última seja presença invisível, que ronda e avança, mas é vista apenas no último episódio, mesmo assim, de leve.  
Segundo os produtores, a decisão de interromper a série enquanto ainda desfrutava de alta audiência foi pra que a qualidade do show sempre fosse lembrada como alta. Certamente será: Lark Rise to Candleford – a despeito de certa indecisão acerca de que período se passa a trama – tinha excelente produção e elenco (novidade? É BBC...), além de personagens cativantes. Até o intolerante fanático religioso Thomas Brown é “gostável”; e isso é perigoso. Os episódios transmitem a ilusão dos “bons velhos tempos”, quando tudo era mais simples, e isso também tem seu perigo.
Embora tenha baixado bastante a guarda ao ver a série e me emocionado por diversas vezes, sempre me vinha à mente a afirmação de Brecht de que triste é a sociedade que necessita de heróis. Idealizar uma época em que se morria fartamente de doenças corriqueiras e a condição de vida em geral era bem mais rudimentar do que a de hoje coloca em xeque a própria noção de progresso apontada no último capítulo.
Pobres de nós que ainda precisamos de válvulas de escape como Lark Rise to Candleford. Restam a esperança e a luta por um mundo onde o passado não precise ser idealizado porque o presente será plenamente satisfatório.

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