quinta-feira, 18 de julho de 2019

TELONA QUENTE 297


Roberto Rillo Bíscaro

Roger Corman é um daqueles cineastas B, que qualquer culturete deslumbrete pode gostar, porque desde os anos 60, a Cinemateca Francesa e o Instituto de Cinema Britânico incensam seu talento, também reconhecido pela Nouvelle Vague e que iniciou diretores e atores famosos, de Jonathan Demme a Diane Ladd. Mestre em fazer filmes interessantes com orçamento baixo, Corman fez as adaptações mais climáticas de Edgar Allan Poe.
Como todo mito – Corman sim o é! – tem um início, resolvi checar o primeiro filme produzido pelo norte-americano, Monster from the Ocean Floor (1954), que na melhor das hipóteses teve orçamento de 30 mil dólares. O empreendedorismo do cinema como indústria de linha de produção braçal, começou dando certo economicamente. O filme foi vendido pra Lippert Pictures por 110 mil dólares e já apresenta todos os elementos da fileira de filmes independentes, baratos, oportunistas (no bom e mau sentido) e com gente desconhecida, que enfeitam a longa carreira de Roger.
“Quickie” e/ou “cheapie” designavam filmes baratos feitos nas coxas (quickie também é uma foda rapidinha) bem velozmente. Monster from the Ocean Floor durou menos de uma semana pra rodar e tem apenas 64 minutos de duração. Exato pra não gastar muito na produção e pra poder passar em sessão dupla nos drive ins.
O monstro do título não aparece nem por 4 minutos; o resto do tempo fica em conversas e gente nadando. Corman fez parceria com o fabricante dum minissubmarino individual, que pôde ser usado grátis em troca da publicidade. É a geringonça que mata a ameba gigante, inclusive. Ah, não reclame de spoiler! Você não acha que nos 50’s o monstro não morreria, né? Ou que já havia o difundido conceito de deixar possibilidade de sequência....
A trama é o usual. Uma veranista norte-americana no México ouve histórias sobre monstro marinho que atacava a comunidade. Ela conhece um biólogo marinho também norte-americano (ajudar latinos até vai, mas o herói tem que ser ianque, mesmo fora dos EUA, yeah!), que não crê no sobrenatural. Mas as investigações de Julie a levarão a ficar cara-a-olho com a criatura. Cara-a-olho, porque o monstro é tipo uma superbola com um baita olhão, sustentada por tentáculos pequenos. Supostamente isso seria uma ameba agigantada pelos testes atômicos no arquipélago de Bikini, em 1946. Tudo isso deduzido em segundos.
Dá pra perceber claramente que os diálogos foram dublados em estúdio, o monstro é pífio e o roteiro é sutil como um trator: a moça que jamais mergulhara, em 3 tomadas já está investigando pistas de monstros-marinhos em recife de corais! E claro, apesar de ajudados, os mexicanos são supersticiosos, esses “primitivos”, viu!
Mesmo não tendo sido dirigido por Roger e certamente por sermos deslumbrados pelo paparico crítico de seu trabalho, Monster From The Ocean Floor já apresenta aquela “estranheza” minimalista de seu trabalho, que, claro, é pura falta de dinheiro, mas que ele sabe administrar tão originalmente bem.

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