segunda-feira, 27 de julho de 2015

CAIXA DE MÚSICA 176

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Roberto Rillo Bíscaro

Ano passado, o guitarrista Chris Walla tocou ao vivo pela última vez com seu grupo de 17 anos, o Death Cab for Cutie (DCFC). Ben Gibbard (vocais, guitarra, teclado), inventor da banda, diz que Walla continua envolvido no coletivo em diversos aspectos, apenas não tocará com eles. Seja como for, a ideia de rompimento e separação permeia Kintsugi, oitavo álbum do DCFC, lançado no derradeiro dia de março.
Kintsugi é uma técnica japonesa de reparo em cerâmica, que, ao invés de tentar esconder os estragos, filosoficamente encara-os como partes da história do objeto. Utilizando ouro ou outro metal em pó, o conserto passa a fazer parte do visual da cerâmica ao invés de ser camuflado. Veja a foto:
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Hold Guns e sua quase nudez instrumental refletem essa arte japa. A melodia é tão esparsa e suave, que dá pra ver o compositor sentadinho dedilhando/compondo em seu violão.
Embora se repetindo a ponto de por momentos parecer autoparódia e de o material não ter a força de trabalhos anteriores, Kintsugi é agradável.
No Room in Frame abre como o infelizmente obscuro James pra virar meio Everybody Wants to Rule the World, das Tias Fofinhas, digo, Tears for Fears. Sem ser cópia oitentista, o álbum exala nostalgia devido ao clima intimista de muitas faixas, mas também porque o indie rock do DCFC é manso e aponta pro passado de vez em quando. A guitarra de Robert Smith não está referenciada apenas no óbvio agito meio amuado de The Ghosts of Beverly Drive. Momentos da reflexiva Black Sun também tem guitarras à The Cure. E a percussão de Everything’s a Ceiling que lembra Prince ou o Phil Collins de Take Me Home?
As 11 faixas de Kintsugi são bastante homogêneas, sempre com um travo de melancolia, mesmo em momentos mais dançantes como El Dorado. O tom confessional continua imperando como na assombrante You’ve Haunted Me All My Life e na elegíaca Binary Sea (if there is no document, we cannot build a monument...”). Gibbard tá meio passadinho pra cantar alguns versos, como o refrão de Little Wanderer ou Ingenué, mas dá pra perdoar.
Uma coisa me pegou de supetão, nem terminara de ouvir Kintsugi. O termo indie rock surgiu nos 80’s pra denominar bandas que, como os Smiths, corriam por fora do synthpop dominante ou que faziam algo distinto do mainstream Elton John. Uma publicação brasileira ao comentar o fabuloso e revolucionário Psychocandy (1985) disse que papai escutava o bolachão de Elton John, enquanto o Júnior não parava de rodar o disco do The Jesus and Mary Chain. Será que agora os filhos de muitos júniores não escutam o indie careta do DCFC junto com o papai? Nada contra música careta – sou respeitável senhor de meia idade – mas a modalidade de indie do DCFC é tão quadrada comparada à dos “inventores” do sub-sub-gênero!

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