segunda-feira, 28 de junho de 2021

ALBINAS BOLIVIANAS


Mãe e filha albinas são ajudadas por viverem em um quiosque na Bolívia. Ela a cria sendo cega

Uma mãe solteira trabalha todos os dias no seu quiosque em Chasquipampa (Bolívia), que por muito tempo foi também o lar em que vivia junto à sua pequena de 4 anos.

Em um quiosque metálico situado na rua 51 de Chasquipampa (Bolívia), trabalha Maritza Mamani, sua dona. Que a cada dia na manhã acomoda os pacotes de batata-frita, alguns de limões e outros de eucaliptos, junto com as demais mercadorias que tem, para dar início ao seu dia de trabalho. No mesmo lugar onde até pouco tempo dormia com sua filha de quatro anos, Maribel, que assim como ela, também é albina. Passaram noites ali assustadas e sem ter aonde ir. Se abraçar entre si era o seu único refúgio.

Enquanto Maritza trabalha no quiosque, sua pequena filha mostra o seu cabelo branco escorrido com duas pequenas tranças enquanto brinca com os seus amigos. Não deixam de sorrir a todo momento, ao mesmo tempo que as mães de todos esses pequenos os veem desde o seu local de trabalho. Entre elas está precisamente Maritza, pensando preocupada em como é difícil criar uma filha quando também tem que enfrentar uma dura pobreza.

“Esta pobre Maritza sofre muito: nós a conhecemos desde que carregava Maribel nos braços, bem pequenininha. Por todas as partes saía vendendo, era ambulante, mas sempre com sua bebê, nunca se separava dela; nesse quiosque viviam as duas”.

Em um dado momento, Maritza ficou perto de ter um lar em Ullau Ullau. Um quarto alugado, pelo qual pediam quase 36 dólares por mês, e como a mulher responsável se compadeceu dela, baixou o preço para 33 mensais. Estava um pouco longe do seu lugar de trabalho, mas era muito mais barato que os de 71 e 115 dólares mensais que lhe ofereciam em outros lugares. No entanto, quando já tinha encontrado uma paz neste aluguel, começou a ser atemorizada por outras comerciantes devido ao fato de que tinha mudado de ramo (para vender doces e frutas) sem realizar os trâmites correspondentes no município. Foi então quando decidiu não sair do quiosque, permanecendo ali escondida com a sua filha, enquanto temia ser detida.

“Para a menina e para mim, a comida não nos chama a atenção: podem passar até três dias e não temos vontade de comer. A Maribel nunca pede comida, eu lhe dou quase que à força. Será algum problema de saúde por nossa condição? Alguém nos poderá orientar: (…) Maribel era branca como eu, quando nasci (…) Eu chamava a atenção igualmente no meu povoado, mas me dava vergonha porque me diziam que parecia uma senhorinha por meu cabelo branco e por isso cobria até a minha cabeça e não queria nem sair nem na rua; minha mãe insistia e me dizia: ‘Como sou orgulhosa do quão linda você é’. Assim me anima sair”.

Hoje, esta mulher albina tem 22 anos e o cabelo preto. O pintou, possivelmente para passar mais despercebida. Ela teve Maribel quando tinha 18 anos, maravilhando todos em seu nascimento. No entanto, ambas atualmente estão sozinhas e Maritza de fato teve que se recuperar sozinha do parto. Além disso, previamente fruto do seu albinismo e de não ter a informação sobre a sua condição e os cuidados que devem ter, a luz causou muitos danos nos olhos de Maritza, para assim aos 15 anos ter perdido grande parte de sua vista. Por sorte, seus pais conseguiram transferi-la para La Paz, onde a inscreveram no Instituto Boliviano de la Ceguera, onde adquiriu independência ao aprender Braile e a se locomover sem enxergar.
Nesse mesmo lugar conheceu o homem que a deixaria apaixonada e com quem teria Maribel. Mas em questão de pouco tempo, o que parecia uma história de amor, terminou cheia de violência e abandono. Sofreu maus-tratos e humilhações por parte dele e ao ver sua família desprotegida e com problemas de visão, tentaram separá-la de sua filha, no entanto, não conseguiram. Inclusive estando quase cega, não deixou de lutar para estar ao lado de Maribel.
“Ela não tem o porquê sofrer, além disso, quem a tenha vai querer um pouco, não como eu, sua mãe, que vou amá-la sempre. Fora que é mulherzinha e não se separa de mim (…) Quando crescer, vou contá-la como foi a nossa vida, o quanto andávamos juntas, sempre juntas. Ela é como minha companheira, minha irmãzinha, minha amiga; é como minha roupa, minha jóia. O amor que tenho com ela é único, sem ela eu não seria ninguém (…) A Maribel tem um caráter bem forte; mas às vezes também penso que se é calada e humilde como eu podem se aproveitar dela, como fizeram comigo; mas, pensando bem, prefiro que seja humilde e não cause danos a ninguém”.
Por sorte, ao que parece suas noites mais duras e difíceis estão perto do seu fim. Porque dias atrás chegaram ao seu quiosque jornalistas de Unitel com a intenção de querer levá-la para a sua casa. Aí ela contou a sua história, a mesma que foi resumida aqui, comovendo todos os presentes. Incluindo as autoridades, que colocaram em execução um plano de apoio para ambas. Comida, óculos para os seus olhos, eletrodomésticos, brinquedos, roupa e, inclusive, um pequeno forno foram doados a elas. A próxima meta de Maritza é a mesma que tem há muito tempo: conseguir uma casa, um terreno onde possa se instalar com Maribel, para assim seguir adiante e viver juntas e felizes como mãe e filha.

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