sexta-feira, 27 de setembro de 2013

PAPIRO VIRTUAL 64

Com orgulho, trago amostra da lavra poética de um ex-aluno meu na faculdade, Gustavo Ferreira Rossi.  
Natural de Penápolis (SP), nasceu em 1971, e cursou primário, ginásio e colegial nessa cidade. Formado em direito pela USP, em 1994.
Fez três anos de Letras na Funepe, Fundação Educacional de Penápolis.
Possui alguns prêmios de literatura, como o da Taba Cultural Editora, concedido em 2006.
Exerce a advocacia em Mogi das Cruzes.
Escrever tem sido o seu hobby.

Tomara que vocês gostem dos textos.


Avenida Paulista
 
Hoje acordei mais triste

Porque não sou Manoel Bandeira


Não tomei nenhum bonde,

Nem tenho a última canção do beco

Mas vou de ônibus,

Sambando como caravela:

Poeta de primeira viagem,

Ainda tento descobrir

Quais são as coisas mais que belas

Toda poesia está aqui:

Com as prostitutas bebendo whisky americano,

Com os índios inspirando os travestis

Que me importa trombe o trânsito?

Que me importa a dura estética?

Quero morrer atropelado,

Quero morrer como poeta

Porque não há motorista

Nesta vida artística

De quem é poesia

Porque não há poesia

Quando se tem motorista

Freando em demasia

Que decole este ônibus

Por sobre as avenidas,

Por sobre as ruas sujas da capital paulista:

Empunhando volantes como fuzis,

Temos a fúria dos bandeirantes

Matando os tupi-guaranis

E não há solução,

Não existem saídas:

Por mais cresça a cidade,

Há pouco espaço para os suicidas

E nenhum beco,

Por mais iluminado seja,

Pode espantar nosso medo,

Ou crescer à sombra de uma igreja

São Paulo

Sem santos

Milhares de pauladas

Meu coração é atropelado na Paulista

E nem sequer chora, nem sangra,

Nem anota a placa do motorista

Maria Rosa

Maria Rosa nasceu onde as rosas não nascem

Dentro do meu coração pediu a Deus para que os dias passassem

Maria Rosa morava onde as rosas não moram

Onde as moças nunca vão, Maria Rosa tinha estado

Amava lentamente cada homem, cada trocado

Entreguei-me a ela inteiramente,
meu coração batia apressado

Meu amor era tanto que esqueci dos espinhos

As rosas somente não falam para os homens sozinhos

Uma rosa existe para cada mão
Maria Rosa para todos

Se um dia ela me amou,
como rosa não foi, uma rosa para cada mão

Mas como mãe, irmã, prostituta,
dividiu seu coração entre o amor e a disputa

Amou-me santamente, mais não do que sim
Se foi rosa para os outros,
foi Maria para mim

Meu maior pecado foi querer Maria Rosa,
mais rosa que roseira,
mais santa que Maria

Maria a ninguém pertencia,
mulher que ninguém engana,
rosa que não se acaricia,
mas dentro de apenas um,
como rosa só,
somente Maria,

Ela a todos pertencia,
mas como se fosse apenas um
a quem muito amaria

Maria Rosa morreu onde as rosas não morrem

Dentro do meu coração pedi a Deus que o amor acabasse

Acabou em minhas mãos,
rosa sem qualquer espinho,
Maria sem nenhum perdão

Maria Rosa, se amei-te até o fim,
quando perdi teu coração,

Foste Maria para os outros,
foste rosa para mim


Gustavo Ferreira Rossi

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