sábado, 27 de setembro de 2025

XILOGRAVURA ALBINA


Artista com baixa visão apresenta xilogravuras no 69º Congresso Brasileiro de Oftalmologia

O artista plástico Daniel Freitas, 42 anos, expõe a série de xilogravuras “Cordel Urbano” durante o 69º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, realizado em Curitiba. Criadas desde 2004, as obras retratam transeuntes, grupos invisibilizados e povos originários nas metrópoles brasileiras, sempre com paleta reduzida e destaque para o amarelo, cor escolhida para representar sua fotofobia e sua condição de pessoa albina.

Com aproximadamente 20% de capacidade visual em cada olho, Freitas convive com a baixa visão desde o nascimento e relata perda visual recente associada à idade. Ele também possui nistagmo, movimento involuntário dos olhos que, segundo afirma, é compensado pelo cérebro e não o incomoda no dia a dia.

A trajetória do artista inclui passagem por centros de reabilitação visual. Em 2009, por meio da Associação de Assistência ao Deficiente Visual (Laramara), em São Paulo, iniciou oficinas de arte para pessoas com pouca ou nenhuma visão, ação que o ajudou na própria aceitação enquanto pessoa com deficiência.

Nascido no ambiente de um ateliê de escultura, Freitas conta que nunca viu sua limitação como barreira. O contato com outros deficientes visuais, porém, ampliou sua compreensão sobre o tema e reforçou a percepção de suas potencialidades.

Para criar suas xilogravuras, o artista reaproveita restos de cenário e pedaços de MDF encontrados em caçambas ou doados por amigos, dando novo destino ao material. Detalhes minuciosos são executados com auxílio de lupas e óculos usados por ourives.

No evento que reúne especialistas em visão, Freitas busca mostrar a médicos e participantes a capacidade artística de pessoas com deficiência visual. Ele espera sensibilizar profissionais sobre a importância do encaminhamento a centros de reabilitação, ainda pouco conhecidos e, segundo ele, muitas vezes fechados por falta de demanda percebida.
https://93noticias.com.br/artista-baixa-visao-xilogravuras-congresso-oftalmologia/

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

PRESSÃO ALBINA

OMS reconhece protetor solar como medicamento essencial após pressão de grupos de albinismo


A Organização Mundial da Saúde (OMS) aprovou a inclusão do protetor solar na Lista Modelo de Medicamentos Essenciais, um passo histórico que pode transformar a vida de milhões de pessoas com albinismo em todo o mundo, particularmente em África, onde a exposição intensa ao sol agrava o risco de cancro da pele.

A decisão foi anunciada após um longo processo de mobilização internacional liderado pela relatora independente da ONU para os direitos humanos das pessoas com albinismo, Muluka-Anne Miti-Drummond, em coordenação com organizações científicas, académicas e da sociedade civil.

A candidatura apresentada à OMS começou a ser preparada em 2022, mas só em 2025 encontrou acolhimento positivo no comité especializado.

Segundo Muluka-Anne, a medida representa “um divisor de águas” na luta contra o cancro de pele entre pessoas com albinismo. “Para pessoas cujas vidas estão marcadas pela vulnerabilidade à radiação ultravioleta, o acesso a protetor solar é transformador.

Trata-se de um ganho que salva vidas e que deve ser visto como uma vitória coletiva”, declarou, agradecendo o empenho de estados-membros, cientistas, ativistas e grupos de albinismo que se mobilizaram ao longo do processo.

A primeira candidatura, submetida em dezembro de 2022 com o apoio da Global Albinism Alliance, Fundação Pierre Fabre, Beyond Suncare, ILDS e Standing Voice, foi rejeitada pela OMS em julho de 2023.

O comité apontou insuficiências técnicas que inviabilizaram a aprovação. Apesar do revés, a equipa voltou à carga em 2024.

Com o apoio voluntário da especialista em saúde Christa Cepuch e uma série de consultas técnicas, o dossiê foi reforçado. Em novembro do mesmo ano, uma nova candidatura foi submetida, desta vez com o apoio adicional do Relator Especial da ONU para as mudanças climáticas e da África Albinism Network.

Paralelamente, campanhas de pressão pública e petições mobilizaram dezenas de organizações em todo o mundo. Em março e abril de 2025, mais de 20 cartas de apoio foram enviadas à OMS, incluindo uma da Missão Permanente da Tanzânia em Genebra e outra da União Latinoamericana de Albinismo, assinada por mais de 30 entidades.

O esforço coletivo culminou em maio deste ano, quando a relatora independente apresentou pessoalmente a candidatura durante a sessão pública da OMS em Genebra. Ao lado dela esteve Clara Maliwa, uma mulher com albinismo que já foi submetida a tratamentos contra o cancro da pele, testemunhando na primeira pessoa a urgência do reconhecimento.

Muluka-Anne sublinhou que o avanço, embora pareça pequeno face ao conjunto de desafios que ainda se colocam às pessoas com albinismo, prova a força da mobilização conjunta. “Esta vitória mostra o impacto positivo que é possível alcançar quando juntamos esforços e trabalhamos com solidariedade e determinação”, afirmou.

A aprovação da OMS obriga os Estados a considerarem a disponibilização do protetor solar nos sistemas nacionais de saúde, como medicamento essencial. Para países como Moçambique, Tanzânia ou Malawi, onde as taxas de incidência de cancro da pele em pessoas com albinismo são alarmantes, a decisão poderá significar maior acesso a cuidados preventivos e a redução de mortes evitáveis. (Fonteː O País)

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

NADA SOBRE NÓS, SEM NÓS

“Nada sobre nós, sem nós”: USP realiza gratuitamente o 1º Congresso Internacional sobre Deficiências em outubro

O evento é coordenado por profissionais com e sem deficiência e está dividido em 12 eixos temáticos

A USP realiza de 21 a 24 de outubro de 2025 o seu 1º Congresso Internacional sobre Deficiências da USP. O evento presencial e on-line é organizado pelo Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da USP, o Diversitas, ligado à Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH). As inscrições gratuitas devem ser realizadas até 30 de setembro na modalidade presencial, mas para o formato on-line permanecerão abertas. Clique aqui!

Com a temática Diversidade, Direitos e Corpos: Participação Social e Barreiras no Mundo Contemporâneo, a iniciativa reúne profissionais de diversas áreas da Universidade e convidados externos de instituições nacionais e internacionais com foco na atuação de acadêmicos, sociedade civil organizada, estudantes e gestores de saúde de diversos países. A programação inclui conferência, mesas redondas e rodas de conversa que também serão transmitidas on-line.

Estão previstas apresentações artísticas e painéis temáticos em 12 eixos a partir dos trabalhos contendo comunicações orais, pôsteres e produções em outras linguagens que serão expostos somente na modalidade presencial.

De acordo com a professora Eucenir Fredini Rocha, sênior do Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional (Fofito) da Faculdade de Medicina (FM) da USP e uma das coordenadoras do evento, a ação busca “discutir as múltiplas dimensões, porque a deficiência historicamente é muito considerada do ponto de vista biomédico e não é só uma questão biomédica”. Para a coordenadora “é um tema que perpassa todas as áreas das nossas vidas, é uma questão social, histórica e política que precisa ser considerada e por isso vai tratar de barreiras, acessibilidade, questões gerais, participação social, vida na cidade, cultura e esporte”, completa.

A mesa de abertura, que tem como tema Pessoa com Deficiência e Direitos Humanos, será ministrada pelo mexicano Carlos Ríos Espinosa, especialista em direitos internacionais de pessoas com deficiência e pesquisador da ONG Human Rights Watch, tendo atuado também no Comitê da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência da ONU (CRPD) de 2011 a 2014.

O professor Paulo Eduardo Capel Cardoso, da Faculdade de Odontologia (FO) da USP e membro da comissão organizadora, destaca uma questão fundamental do congresso. “Nada sobre nós, sem nós”, quando ressalta que o evento é realizado com a participação de pessoas com e sem deficiência na concepção e realização. “Se você vai discutir sobre deficiência visual, obrigatoriamente tem que ter alguém junto com deficiência visual, não só para fazer a interlocução, mas também para dar feedbacks”, destaca.

“O congresso, assim como a Universidade, tem um papel importantíssimo, e por isso que a gente optou em fazer misto. É todo misturado, nada sobre nós sem nós, nada sem os profissionais, vamos dialogar com a comunidade externa. O diálogo é a principal questão”, complementa a professora Eucenir.

Capel comenta sobre a questão do luto e da luta, o professor foi diagnosticado em 2018, mas há cerca de cinco anos entrou na fase mais severa da perda de acuidade visual. “Quando a doença na minha visão se instalou para valer eu não enxergava mais o rosto das pessoas, não conseguia ler. Eu tive um luto bravo. Sou um professor universitário superativo, foi um choque. Conhecendo outras pessoas com deficiência visual e a tecnologia assistiva, isso me trouxe de volta”, revela.

A tecnologia assistiva tem como intuito promover a autonomia, inclusão e qualidade de vida para pessoas com deficiência a partir de produtos, equipamentos, serviços ou estratégias que facilitem o dia a dia das pessoas. “Eu consigo trabalhar num celular sem enxergar. O meu celular conversa comigo, aliás, não é o meu celular, o seu, o da professora Eucenir, qualquer celular tem um modo chamado acessibilidade e ele vira um instrumento fundamental. Eu posso sair sem dinheiro, sem nada na rua, mas se eu sair sem o meu telefone, eu me perco”, explica Capel.

O professor desenvolveu iniciativas simples e de baixo custo em pesquisas de tecnologia assistiva voltadas para deficientes visuais como um equipamento que auxilia a colocar pasta na escova de dentes impresso em 3D e um dispositivo que auxilia a colocar água no copo sem derramar, ações realizadas em uma parceria da Faculdade de Odontologia da USP com a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar).

De acordo com o censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possui cerca de 14,4 milhões de pessoas com deficiência, o equivalente a 7,3% da população. Quando se trata do acesso à educação, ao trabalho e à concentração de renda, os dados são mais alarmantes.

Conforme a PNAD Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua) do instituto, o índice de analfabetismo foi de 19,5% para as pessoas com deficiência e 4,1% entre os que não deficientes. Quando se trata da força de trabalho 66,4% das pessoas sem deficiência estão empregadas, taxa que cai para 29,2% entre os deficientes, impactando na concentração de renda, com um rendimento médio de R$ 1.860, um valor 44,7% menor do que os não deficientes, com R$ 2.690.

A Constituição Federal do Brasil de 1988 estabelece em seu artigo 205 que a educação é um direito de todos e complementa no parágrafo terceiro do artigo 208 que é dever do Estado garantir o atendimento educacional especializado aos deficientes, preferencialmente na rede regular de ensino.

“Se está escrito que todo mundo tem direito à educação, por que tem que fazer tanta discussão para poder ter a criança com deficiência na escola? Eu posso falar mais da saúde e da educação, que é onde eu atuei mais para inclusão escolar”, ressalta a coordenadora Eucenir.

A professora destaca que muitos avanços foram conseguidos a partir dos movimentos sociais. “A lei por si só não garante, essa é a questão. Tem uma mudança comportamental enorme, cultural, que a gente tem que promover de algum modo, e a universidade tem que pensar nisso”. Para Eucenir é um debate universal. “A questão da deficiência não pertence às pessoas com deficiência, ela pertence ao mundo, como seres humanos. Nós não sabemos o que acontece e como vai ser a vida, e com deficiência também há uma possibilidade de vida plena”, finaliza.

Até o fechamento da reportagem, foram recebidas 1.830 inscrições gerais de 20 estados brasileiros e de outros países como México, Escócia, Canadá e EUA. Cerca de 150 pessoas com deficiência participam presencialmente do evento. Foram submetidos 305 trabalhos de graduandos, pós-graduandos, pesquisadores e docentes de diversas instituições.

Serviço
O 1º Congresso Internacional sobre Deficiências da USP será realizado de 21 a 24 de outubro de 2025. O evento presencial e on-line está com inscrições abertas e gratuitas pelo site do evento. Clique aqui. Para a modalidade presencial os interessados devem se inscrever até 30 de setembro, mas para o formato on-line permanecerão abertas. A organização é do Diversitas, o Núcleo de Estudos das Diversidades, Intolerâncias e Conflitos da USP.

domingo, 14 de setembro de 2025

ADEUS AO BRUXO ALBINO


Aos 89 anos, morre Hermeto Pascoal, um dos mais criativos músicos do planeta

Artista venceu três vezes o Grammy Latino e recebeu títulos de doutor honoris causa de três universidades


Um dos músicos mais originais do planeta, o multi-instrumentista e compositor Hermeto Pascoal morreu na noite deste sábado (13), aos 89 anos. Ele estava internado desde 30 de agosto no Hospital Samaritano Barra, no Rio de Janeiro, para tratar complicações decorrentes de fibrose pulmonar.

Hermeto deixa seis filhos, 13 netos e dez bisnetos. A notícia foi confirmada em sua conta oficial no Instagram, onde a família comunicou que o músico “fez sua passagem para o plano espiritual, cercado por familiares e companheiros de música”.

A publicação destacou ainda que, no momento de sua partida, seu grupo se apresentava no palco, “como ele gostaria: fazendo som e música”. O texto conclui com um convite: “Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta. Escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira. A música universal segue viva”.

Em nota, o Hospital Samaritano Barra explicou que o artista foi internado para tratar complicações respiratórias de um quadro avançado de fibrose pulmonar. Apesar do suporte médico, seu estado se agravou nas últimas horas, evoluindo para falência múltipla dos órgãos.

Carreira reconhecida mundialmente

Nascido em Lagoa da Canoa (AL), em 1936, Hermeto se destacou como compositor, arranjador e instrumentista, dominando instrumentos como acordeão, flauta, saxofone e piano. Ficou conhecido como “Bruxo”, apelido inspirado em sua habilidade de transformar qualquer som – de objetos comuns a ruídos inesperados – em música.

Fundador do Quarteto Novo, colaborou com grandes nomes do jazz, incluindo Miles Davis. Sua obra é estimada em milhares de composições, refletindo uma criatividade inesgotável. Reconhecido internacionalmente, conquistou prêmios como o Grammy e foi homenageado com nomes de espécies botânicas.

Hermeto venceu três vezes o Grammy Latino e recebeu títulos de doutor honoris causa da Juilliard School, da Universidade Federal da Paraíba e da Universidade Federal de Alagoas.