quinta-feira, 12 de março de 2020

TELONA QUENTE 325 (ALBINA)

Roberto Rillo Bíscaro

A lista de representações negativas/sobrenaturais das pessoas com albinismo é extensa em várias artes. Vai de clássico da literatura de ficção-científica à porcaria obscura cinematográfica.
O blog jamais se propôs a patrulhar manifestações artísticas atrás de albinos malucos ou malvados e compilá-las, por mais útil que possa ser. Entretanto, quando me deparo com uma, comento, como é o caso de The Mole People (1956).
Enquanto a maioria das ficções-científicas cinquentistas voava para o espaço sideral, essa produção de baixo orçamento mergulha no misterioso subsolo num roteiro absurdo, mas até que divertido, não fosse o final abrupto e a pobreza geral.
O título de “doutor” deslumbra muita gente e a TV sempre adorou usar quem o possui pra dar confiabilidade às frequentes bobagens apresentadas. Nos anos 50/60 Frank C. Baxter ficou famoso como “cientista”, porque apresentava shows relacionados e tinha opiniões formadas sobre tudo. Que fosse doutor em inglês e entendesse de ciência provavelmente tanto quanto eu (também um doutor....) não importava; ele era dotô e dotô tem otoridade!
Pois bem, The Mole People tem introdução algo longa sobre teorias intraterráqueas pra dar sustância à trama. O Dr. Baxter faz apanhadão até interessante sobre malucos que criam que a Terra era oca. Não ria dos antigos: numa convenção terraplanista da “desenvolvida” Inglaterra, os panelistas decidiram que a lei da gravidade não existe e a Austrália é habitada por robôs.
Corta pros confins mesopotâmicos montanhosos da Ásia, onde pequeno grupo descobre civilização subterrânea, que vive segundo preceitos da deusa Ishtar. O roteiro passa diversos minutos tentando estabelecer mitologia própria, num mambo-jambo sobre dilúvios, arcas e outras crendices.
Inexplicavelmente, essa civilização consegue produzir tecidos, material pra instrumentos musicais, embora esteja fadada a comer ratos e cogumelos. Eles se assustam com a lanterna dos visitantes da superfície, mas quando gigantesca porta se abre e descomunal facho luminoso ilumina donzelas a caminho do sacrifício, elas sequer franzem os lindos rostos. Essas coisas, claro, não tem a menor importância, afinal, são esses absurdos que nos motivam a aguentar esse tipo de filme. E tá cheio do tolice e roupa de monstro mal feita.
Falando em monstro, o tal povo-toupeira do título é uma comunidade mais intraterrestre ainda, dominada pela tal civilização sumeriana, que é albina e teocrática. Faz sentido serem despigmentados se não há sol lá embaixo (mas há uma claridade vinda das rochas ou algo assim), mas nem todos são e os pigmentados são inferiores e serviçais da elite albina. Guardas albinos (mal maquiados pra burro) chibatam as pobres toupeiras, mas claro que a situação mudará, afinal, chegaram heróis da superfície.
Só não se sabe pra quê, porque no final... bem, assista, mas saiba que rumores dão conta que aquele desfecho foi imposto pelo estúdio pra não estimular uniões inter-raciais, naquele momento proibidas em alguns estados norte-americanos.

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