segunda-feira, 5 de agosto de 2019

CAIXA DE MÚSICA 375



Roberto Rillo Bíscaro

De quando em vez, aparece nova “nova Karen Carpenter”. Rumer é a mais cotada dos últimos anos. Tal procedimento comparativo é contraproducente e pro artista novo é lâmina de dois gumes: se por um lado gera alguma pauta em mídia ou grupos de discussão online, ajudando na divulgação; por outro, gesta expectativas irrazoáveis. Não haverá outra Karen e é assim que tem de ser. Não porque tenha sido gênia insubstituível, mas porque pessoas são diferentes. Simples. De todo modo, as comparações continuam e a trágica vocalista dos Carpenters tem outra “reencarnação” discutida em fóruns de fãs, onde a conheci.
Harriet é britânica, que se confessa influenciada pelos Carpenters e por caminhão de artistas românticos, easy listening e soft rock. Com site espartano em relação a dados biográficos, soube que Harriet abriu pra Michael Bolton, em sua última turnê pelo Reino Unido. Quem se lembra da sacarina derramada pelo norte-americano nos anos 80, já anteouve o tipo de som de Harriet.
Fui ao Spotify, onde a jovem nem tem 8 mil ouvintes mensais, e escolhi como introdução, a edição deluxe de seu álbum homônimo de estreia, lançado em 2016. A versão de luxo é de 17. São 20 faixas e, dentre as bônus, há covers de Backstreet Boys (As Long As You Love Me), Jon Secada (Just Another Day), George Michael (You Have Been Loved) e filme da Disney (The Beauty and the Beast). As duas faixas mais movimentadas sequer atingem o status de midtempo: Whoever You Are é pra ouvir no carro, ao som de FMs easy listening e Reach começa lenta pra se tornar versão meio diluída do tipo que o Swing Out Sister rememorava no fim dos anos 90.
O álbum é só pra quem ama baladas dramáticas e doídas, simples, sem aventuras, mas tudo muito bem cantado e feito. O timbre de Harriet coincide com o de Karen Carpenter, em seu registro mais grave, como prova a abertura, Afterglow. Isto posto, é bom deixar as comparações de lado e se o ouvinte quiser clone de Carpenter, que vá ouvir os álbuns originais.
Tem bastante material à Adele, como Broken for You ou Love Will Burn. Tem faixa que remete ao outrora popular Keane. Ouça o piano de abertura de First and Last e veja se um dueto com Tom Chaplin não caberia direitinho.
Harriet tem muito drama de dor de cotovelo e declarações de amor bombásticas, em baladas ao piano, ao violão e, em sua maioria, com sons mais orquestrais. Em meio a tudo isso, há o suave pop hall de Permission to Kiss, que dá vontade de sair dançando em calçadas nova-iorquinas ou londrinas, num mundo não muito depois do fim dos Beatles, quando Burt Bacharach mandava.
Tudo muito gostoso.

Um comentário:

  1. Ótima dica. É preciso ter bons "ouvidos de ouvir", para não confundir com Karen, a magérrima irmã do Richard, especialmente nos graves (nos agudos, nem tanto). Isso sem falarmos no arranjo, na melodiosa composição, que leva a gente, segura e confortavelmente, aos idos 70's. Bom demais "reviver" tudo isso.

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